A alteração genética das plantas é, por isso, a melhor ferramenta para garantir a adaptação das plantas a altas temperaturas e à falta de água. Na estação de melhoramento de plantas em Elvas esse trabalho é feito há vários anos.
Benvindo Maçãs, diretor do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária de Elvas (INIAV), explica à Renascença que o caminho tem de ser “criar nova variabilidade genética a partir do que temos hoje, promovendo mutações com novas ferramentas da biotecnologia que permitam a adaptação aos cenários que estão previstos para o futuro”.
A estação de melhoramento de plantas é uma das quatro unidades de investigação do INIAV e tem como objetivo a conservação dos recursos genéticos vegetais e animais e a promoção da sua utilização sustentável em programas de melhoramento e uso direto para produtos específicos.
Os programas de melhoramento genético reportam a grandes culturas da zona mediterrânica, como os cereais, leguminosas para grão, pastagens, forragens e oliveira.
As plantas nativas têm mais resiliência que as francesas
Um dos projetos que está em curso nesta altura decorre em parceria com um instituto francês. Benvindo Maçãs revela à Renascença que “foram os franceses que vieram ter connosco, porque sabem que daqui a 50 anos vão ter o mesmo cenário que nós temos aqui no Alentejo”.
As duas instituições estão a desenvolver modelos de plantas para adaptação às alterações climáticas e já há resultados “muito engraçados”, acrescenta. Uma das conclusões a que chegaram é que as variedades selecionadas nas nossas condições são mais resilientes a este clima, com pouca chuva e muito quente.
“Estamos a fazer ensaios com variedades portuguesas e francesas, e os franceses fazem o mesmo no sul do país e já fizemos a comparação”, explica o diretor do INIAV. “Concluímos que o material genético português tem mais resiliência do que as variedades francesas porque tem alguns mecanismos que lhe permitem poupar água e as variedades francesas têm um consumo mais liberal e não demonstram essas características fisiológicas.”
Para além do trigo, a estação de melhoramento de plantas tem também em curso um trabalho de investigação sobre o olival, que predomina naquela região do Alentejo. Benvindo Maçãs refere que “os estudos feitos até agora permitem concluir que há uma boa variabilidade genética que nos vai permitir assegurar, no futuro, variedades de olival adaptados às alterações climáticas mais difíceis”. Por outro lado, refere, “estamos a promover a criação de novas combinações genéticas através de cruzamentos artificiais”.
Estes são alguns trabalhos em curso na estação de melhoramento de plantas de Elvas, que em breve vai receber mais investigadores porque o Governo quer criar ali um laboratório para combater os efeitos das alterações climáticas. A iniciativa envolve vários parceiros entre instituições do mundo científico, empresas e associações de agricultores. O ministro da Agricultura já anunciou um investimento de 2 milhões de euros neste projeto.