A Herdade da Figueirinha, localizada em Beja, no coração do Alentejo, lançou um projeto pioneiro no setor olivícola: a transformação do bagaço da azeitona — um dos maiores problemas de resíduos agroindustriais em Portugal — num composto orgânico de alta qualidade. Através de um modelo de economia circular, a empresa reutiliza subprodutos da própria herdade e de outros produtores nacionais, reforçando a fertilidade dos solos e reduzindo até 50% ou mais o uso de adubos minerais.
O que durante anos foi um entrave logístico e ambiental à olivicultura — o destino do bagaço das azeitonas — é agora uma oportunidade de regeneração.
A Figueirinha investiu na criação de uma unidade de compostagem própria que valoriza integralmente os excedentes das suas atividades agrícolas e vínicas, como folhas de oliveira, massas vínicas, restos de poda, capoto de amêndoa e águas resultante da laboração do lagar.
Ao invés de entregar o bagaço às extratoras, prática comum no setor, o projeto transforma este subproduto em matéria útil. “Deu-se um passo decisivo quando percebemos que o bagaço era muito mais do que resíduo”, explica a equipa. “É um recurso valioso e com enorme potencial para regenerar os solos.”
Este processo é reforçado com a colaboração de parceiros do Clube de Produtores Continente, que fornecem excedentes agroindustriais — como retraço de tomate, polpa de fruta e cascas de laranja — para a composição das pilhas. Todo o composto é produzido in situ, reduzindo transportes, emissões e desperdício e não emite qualquer tipo de cheiros nem fumo. As pilhas são monitorizadas de forma contínua, regadas com águas resultantes da laboração do lagar e revolvidas regularmente para garantir estabilidade, qualidade e segurança ambiental.
O resultado é um composto orgânico homogéneo, estável e rico em nutrientes, pronto para ser aplicado nos solos da herdade. A Figueirinha já iniciou a incorporação deste material nas áreas de cultivo, melhorando a qualidade da terra e reduzindo a dependência de fertilizantes minerais. De toda a produção de composto, a Herdade da Figueirinha só precisa de 30% para consumo próprio, permitindo que este esteja, simultaneamente, já disponível para comercialização, como NORG – o composto que cria raízes, naturalmente.
Mais do que uma solução técnica, trata-se de uma mudança de paradigma. A Figueirinha opera hoje com base numa economia circular:
- O azeite extraído representa cerca de 15% do volume da azeitona.
- O caroço é reutilizado como biocombustível, fornecendo energia térmica para o lagar.
- As águas residuais são reintegradas no sistema, sendo aplicadas no processo de compostagem ou no ciclo de rega.
- O bagaço seco é transformado no composto orgânico que volta ao solo — fechando o ciclo natural de produção.
A este trabalho juntam-se outras tecnologias sustentáveis implementadas na herdade: rega gota-a-gota, sondas de humidade, estações meteorológicas e caudalímetros que otimizam o uso de água e permitem poupar entre 15 e 20% face aos valores de referência. A biodiversidade é preservada através de enrelvamento natural e mulching, protegendo o solo da erosão e melhorando a fertilidade.
Este modelo ambientalmente responsável traduz-se também em impacto económico e social: redução de custos de fertilização, criação de postos de trabalho especializados e apresentação de uma viticultura e olivicultura mais limpa e regenerativa.
A Figueirinha implementou este ano o Referencial Nacional de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola, certificado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), e está em processo de implementação do Programa de Sustentabilidade dos Azeites (PSA). O projeto de compostagem está a ser promovido em regime de open share, para que outros produtores possam replicar o modelo.
Para a empresa, a visão é simples: “Mais do que resultados imediatos, interessa-nos o impacto positivo que deixamos. Queremos ser exemplo de viticultura e olivicultura regenerativas no Alentejo.”
Fonte: Herdade da Figueirinha













































