As exportações portuguesas de café aumentaram 2,41%, para 86,2 milhões de euros, em 2020 face a 2019, apesar do impacto da pandemia, passando a estratégia do setor este ano pela aposta nos mercados do Canadá e Reino Unido.
Em entrevista à agência Lusa, a secretária-geral da Associação Industrial e Comercial do Café (AICC) explicou que estes “são dois mercados onde vale a pena apostar porque têm um consumo de café crescente e semelhante ao português, estão a começar a consumir mais fora de casa e têm um perfil aberto a diferentes tipos de café”.
“O Reino Unido é um mercado onde o café é muito valorizado e que tem um consumo bastante alto. Achamos que, apesar do ‘brexit’, faz sentido apostarmos, exatamente porque há outros mercados que vão ter dificuldade em entrar no Reino Unido e nós, se calhar, conseguimos manter as relações comerciais que sempre tivemos com o país”, sustentou Cláudia Pimentel.
Quanto ao Canadá, “é também um mercado com grande consumo de café e onde, por ter uma comunidade portuguesa bastante grande, achamos que é fácil entrar”, explicou.
“A nossa ideia é fazer algumas missões quer no Canadá, quer em Inglaterra, e depois promover uma missão inversa convidando os potenciais compradores a virem ao ‘Lisbon Coffee Fest’, que foi adiado de março deste ano para março de 2022”, adiantou a dirigente da AICC.
Em 2020, o Reino Unido foi o terceiro maior mercado (em valor) das exportações portuguesas de café torrado (não descafeinado), com um total de 7,427 milhões de euros vendidos para aquele país, equivalentes a uma quota de 9,56%.
Já o Canadá ocupou a 15.ª posição, com uma quota de 1,73% e compras de 1,342 milhões de euros.
O ‘ranking’ dos principais destinos das exportações nacionais de café no ano passado é liderado pela Espanha (16,135 milhões de euros, quota de 20,77%), seguida de França (que comprou 9,805 milhões de euros, equivalentes a uma quota de 12,62%) e do Reino Unido.
O “complicado” mercado russo tem vindo a registar um forte crescimento, destacando-se em 2020 como o quarto maior destino das exportações portuguesas de café, com compras de 6,547 milhões de euros e uma quota de mercado de 8,43%.
De acordo com os dados da AICC, as exportações portuguesas do setor têm vindo a crescer de forma sustentada nos últimos anos, tendo passado de 73,6 milhões de euros em 2018 para 84,2 milhões de euros em 2019 e 86,2 milhões em 2020.
O mercado interno continua, contudo, a responder pela esmagadora maioria das vendas portuguesas de café, muito embora a evolução em 2020 tenha sido fortemente penalizada pela pandemia, recuando dos 800 milhões de euros de 2019 para cerca de 700 milhões de euros.
No ano passado, devido às restrições impostas pela pandemia ao funcionamento do comércio a retalho, as vendas do setor para a restauração caíram 40%, enquanto na distribuição subiram, mas apenas 16%.
“Foram os efeitos da queda do turismo e do consumo, quer na restauração, quer nos escritórios” explicou Cláudia Pimentel, salientando que, “por muito que as pessoas bebam mais café em casa, não compensa” a quebra registada no tradicionalmente forte segmento da restauração.
Isto porque, conforme explicou, “Portugal é o mercado europeu que consume mais café fora de casa, o resto da Europa consome muito mais dentro de casa”.
“Portanto, as quebras que houve no mercado externo devido às restrições da pandemia foram sempre menores, internamente é que tivemos uma quebra grande porque deixámos de consumir café fora de casa”, disse.
Esta tradição muito portuguesa de fazer do café “um momento de convívio e gastronómico” é precisamente o que a associação pretende transmitir aos mercados estrangeiros com a campanha em torno da marca ‘Portuguese Coffee, a Blend of stories to the world’ lançada pela AICC em 2017.
“Começámos a fazer esta promoção do café português porque achamos que faz sentido promover um produto que é característico de Portugal. É um produto gastronómico que faz a diferença. Aliás, nós, portugueses, sempre que viajamos sentimos falta do café português”, nota Cláudia Pimentel.
Salientando que “Portugal trabalha com o café desde as suas origens – foi quem o levou para o Brasil e o desenvolveu em Timor” – e tem “um conhecimento do café desde a planta até à torra”, a dirigente associativa lembra que “a maioria das empresas de torra de café portuguesas tem séculos de existência” e “um conhecimento histórico do café que lhes dá algum ‘know how’ sobre como combinar diferentes tipos de café”.
“Temos de valorizar essa nossa experiência”, sustenta.