Um estudo de revisão recentemente publicado na revista científica “Mammal Review” revelou importantes descobertas sobre as interações entre mamíferos selvagens e o gado doméstico, e a sua relevância para o risco de transmissão de Tuberculose bovina em todo o mundo. O artigo científico, intitulado “Disentangling wildlife–cattle interactions in multi-host tuberculosis scenarios: systematic review and meta-analysis”, está disponível para acesso online e divulga os principais critérios e métodos utilizados para definir uma interação entre animais selvagens e bovinos com relevância para a transmissão da tuberculose bovina.
O risco de transmissão da Tuberculose bovina (Mycobacterium bovis) é muito elevado quando hospedeiros infetados e suscetíveis entram em contacto físico ou muito próximo, havendo maior probabilidade de transmissão de aerossóis. Estas interações diretas têm sido apontadas como o principal meio de transmissão da doença. No entanto, alguns estudos têm sugerido que estas interações podem ser raras e que as interações indiretas (uso do mesmo espaço contaminado por espécies diferentes, em momentos diferentes) podem ser mais frequentes e representar um risco maior na transmissão.
Neste trabalho foram analisados, pela primeira vez, os padrões de interação entre mamíferos selvagens e bovinos, a uma escala global, e as suas potenciais ligações com fatores ecológicos e metodológicos, concluindo que para prevenir a transmissão da tuberculose bovina ao gado, deve ser dada atenção às interações indiretas, uma vez que estas foram 154 vezes superiores às taxas de interação direta. A elevada densidade de mamíferos selvagens (como o javali e o veado) aumentam as taxas de interações indiretas, o que pode resultar num maior risco de transmissão da doença para o gado.
Este estudo pioneiro foi coordenado por investigadores do MED-Instituto Mediterrânico para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento, sediado na Universidade de Évora, e envolveu investigadores do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, ambas unidades de I&D pertencentes ao Laboratório Associado CHANGE – Instituto para as Alterações Globais e Sustentabilidade, e vem contribuir para a definição de medidas de controlo e biossegurança, também aplicáveis a outras doenças infecciosas que circulam entre a vida selvagem, espécies domésticas e a espécie humana.
A investigação foi financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito de uma bolsa de doutoramento (SFRH/BD/146037/2019), do projeto COLOSSUS (PTDC/CVT- CVT/29783/2017) e do projeto MOVERCULOSIS (2022.06014.PTDC).
O artigo foi publicado originalmente em MED.