Um ambiente regulatório diferente e benéfico à edição de genes na agricultura só é possível se a velha narrativa sobre os OGM perder credibilidade junto da próxima geração de consumidores. É o que defendem os autores do estudo Exploring the Roots of the Old GMO Narrative and Why Young People Have Started to Ask Critical Questions.
A história do moderno melhoramento de plantas está implicitamente presente em tudo o que cultivamos e comemos hoje, pelo que a estratégia do marketing de retalho de anunciar os produtos biológicos como ‘naturais’ e, portanto, ‘seguros’, em oposição aos produtos geneticamente modificados (GM) é altamente enganosa, segundo o estudo Exploring the Roots of the Old GMO Narrative and Why Young People Have Started to Ask Critical Questions, cujo primeiro capítulo já está à venda na Springer.
Dizem os autores que é a simplificação radical de agricultura ‘boa’ vs ‘má’ que torna o debate sobre a agricultura sustentável superficial e envolto em ficção e não em factos científicos. As consequências disso são visíveis na regulamentação incoerente e dispendiosa destinada a impedir o uso de variedades geneticamente modificadas (GM) na agricultura.
A narrativa que ao longo dos anos foi usada para denegrir os OGM junto dos consumidores está agora a ser usada para prejudicar as mais recentes técnicas de reprodução associadas ao CRISPR Cas9 e a outras ferramentas de edição de genes. Os que se opõem à agrobiotecnologia estão a rotulá-las como “OGM 2.0.”. Aliás, o mesmo rótulo já tinha sido implicitamente adotado pelo Tribunal de Justiça Europeu em 2018, quando decidiu sujeitar as técnicas de edição de genes mais recentes à regulamentação dos OGM, independentemente de o produto final ser transgénico ou não. E o Tribunal Superior da Nova Zelândia fez o mesmo, só que neste caso a decisão vai contra a história de sucesso do país como uma potência global em inovação agrícola.
Ainda segundo o primeiro capítulo do estudo, um ambiente regulatório diferente só é possível se a velha narrativa sobre os OGM perder credibilidade junto da próxima geração de consumidores. Com as alterações climáticas e a crise global resultante da COVID-19, muitos acham cada vez mais irresponsável descartar uma importante tecnologia, como a edição de genes, apenas porque é ‘nova’.
O artigo foi publicado originalmente em CiB - Centro de Informação de Biotecnologia.