Os três vinhos que sugiro esta semana têm entre si um fator comum: são bio, ou orgânicos, como se quiser chamar. De facto, nos rótulos ou contrarrótulos aquelas duas designações são usadas indistintamente. No fundo são vinhos que cumprem determinadas regras da produção, de acordo com normas europeias e certificadas por entidade competente. Atualmente há cada vez mais aceitação, por parte do consumidor, de produtos (e, claro, vinhos) que cumprem regras de respeito ambiental, com menor recurso a químicos. No entanto, por trás desta boa vontade, esconde-se um universo muito complexo e muito desencorajante para quem, à partida, estaria disposto a entrar neste grupo. Repare-se neste exemplo: um produtor de vinhos tem uma parcela que quer avançar para a produção bio certificada mas… não pode!
Porquê? Porque, para ser bio, toda a produção, de todas as parcelas, tem de ser bio, não pode haver uma parcela bio e outras não. Temos então que, debaixo de um mesmo nº de contribuinte, é tudo ou nada. O absurdo disto é que uma das parcelas pode ser em Bucelas e outras no Douro, mas, se estiverem sob o mesmo número, não podem ter certificação. Parte, o legislador, do princípio que, assim, é mais fácil fiscalizar a contabilidade para verificar se comprou produtos não autorizados. O que o legislador se esqueceu é que a imaginação está mais avançada que a lei e esta situação levou a que alguns produtores tenham criado empresas novas que só gerem as parcelas bio, mantendo as outras que gerem as vinhas convencionais. Cumpre-se assim a ideia peregrina que sugere: se podemos complicar, para quê simplificar?