“Plantar, podemos então dizer, não é uma escolha: é uma solicitação inexcusável da própria vida, que disso depende. E é sempre assim. Mesmo quando plantar se parece com um hobby sem especial finalidade; mesmo quando se configura como um fazer pontual, um desses muitos a que recorremos para nos distrairmos de outros. Mesmo aí, o verbo ‘plantar’ é um modo de aprofundar e refazer a aliança com a vida.” As palavras são de José Tolentino Mendonça, poeta, sacerdote e professor. Sugerem o caráter primordial do cultivo, de comunhão com a Natureza e da natureza, humana, de cada um. E há uma doçura na voz de Lúcio Tavares: “Adoro isto. É como cuidar de um filho, com amor. É como se trata a Natureza. Sinto-me feliz no meio destas plantas.” Lúcio tem 59 anos – está preso há 16 – e é um dos 42 reclusos do Estabelecimento Prisional de Torres Novas. Durante o dia, sai para trabalhar nos serviços municipais. “Faço de tudo”, diz, sem especificar. “Mas não me esqueço disto. Guardo sempre um tempo, da parte da tarde, para vir cuidar das […]