Apesar dos preconceitos os jovens são dotados com as competências técnicas e transversais enquadradas no perfil do aluno para o séc. XXI
Em Portugal existem várias Escolas Profissionais Agrícolas e de Desenvolvimento Rural localizadas de Norte a Sul, que se definem como estabelecimentos de ensino especializado na área agrícola que todos os anos preparam novos profissionais (técnicos) qualificados para trabalharem nas explorações agrícolas.
15 dessas instituições (14 públicas e 1 privada) integram a Associação Portuguesa de Escolas Profissionais Agrícolas (APEPA), criada em julho de 1994 e de acordo com os dados avançados pelo seu presidente, na entrevista que pode ser lida nas páginas seguintes, neste momento frequentam-nas cerca de 2800 alunos.
Mas o que é que faz os jovens optarem por estes cursos e esta via de ensino? Apesar da mentalidade com que se olha para a atividade agrícola ter mudado muito nos últimos anos, e a atividade agora ser conotada com um prestígio que durante anos não teve, dos contactos que estabelecemos com várias das Escolas Profissionais que ministram ensino agrícola percebe-se que o preconceito e a falta de reconhecimento social do setor primário ainda persiste. Esta foi uma das dificuldades apontadas, embora a mais comum até sejam os constrangimentos financeiros. Foram indicadas ainda situações como a deficiente orientação vocacional dos alunos em contexto escolar, muita oferta de cursos profissionais, falta de recursos humanos afetos às explorações agrícolas e nalguns casos até necessidade de mais área agrícola para expandir as atividades.
São problemas com que as direções destas escolas se debatem diariamente, mas nem por isso baixam os braços e desdobram-se em parcerias e protocolos que levam a taxas de empregabilidade (nalguns casos) próximas dos 100%. Perfeitamente inseridas nas regiões onde estão sediadas trabalham numa dimensão pró-ativa relativamente à realidade da atividade agrícola, cada qual com as suas explorações e valências. Ou seja, falamos de jovens que depois de terminarem a sua formação (12.º) estão preparados para ingressar no mercado do trabalho, porque ao longo desse período puderam contactar com a realidade, numa lógica de “aprender fazendo”.
Por forma suprirem as necessidades em termos de oferta formativa das regiões, que conhecem como ninguém, é importante referir também os Cursos de Educação e Formação (CEF) que proporcionam equivalência ao 9.º ano de escolaridade além de alguns casos de formação e certificação ao longo da vida, permitindo uma cultura de aprendizagem dos jovens e adultos.
Reportando-se aos jovens técnicos os diretores das Escolas Profissionais referem-se a muitas vantagens e mais-valias que podem trazer para o país e para a atividade agrícola, como o diretor da Escola Pofissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes quando aponta que para além de uma qualificação profissional de nível 4 e um certificado académico de 12º ano, estes alunos são preparados para o ingresso no mundo do trabalho e para tal podem requerer certificação específica na área em que fizeram formação, como por exemplo a carta de condução de máquinas agrícolas, o cartão de aplicador de produtos fitofármacos, o grau de treinador de equitação (…).
Já a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses sublinha que ao longo da sua existência tem desenvolvido mecanismos de interligação com o tecido social, institucional e empresarial envolvente que se tem revelado um parceiro importante, quer na formação quer na integração laboral dos jovens que frequentam a escola. Estas parcerias têm proporcionado elevadas taxas de empregabilidade dos técnicos recém-formados na vertente agroturística. A formação em contexto de trabalho nas explorações e empresas, envolveu perto de 600 entidades distribuídas por todo país e até no estrangeiro, em países como Espanha, França, Dinamarca, Polónia e Roménia.
Esta interligação com o meio é comum a todas as instituições com quem falámos e revela-se mesmo um fator diferenciador de cada uma delas já que se inserem em regiões diferentes, com as suas particularidades.
Veja-se a Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Serpa, inserida no Perímetro de Rega do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva, numa propriedade agrícola que é um espelho das principais culturas que se desenvolvem especialmente nesta região do Alentejo interior, o que traduz vantagens únicas para a Escola que tem toda a cultura organizacional, desde a dimensão curricular, gestão dos tempos letivos, projeto educativo subjacente a um papel central da aprendizagem em contexto de trabalho. Mas há mais escolas para conhecer ao longo de uma reportagem de 8 páginas.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 227 (junho 2019)
Foto cedida pela EPAMAC