André Roux é o diretor de Sustentabilidade no Departamento de Agricultura da província do Cabo Ocidental, na África do Sul, e será um dos oradores da conferência Climate Change Leadership, no Porto
Imagina-se a reduzir os seus gastos diários de água a 50 litros por pessoa? Banhos incluídos? Pois foi isso mesmo que os habitantes da Cidade do Cabo, na África do Sul, tiveram de fazer face à seca com que o país se debate. E a agricultura não passou ao lado destas restrições. André Roux é o diretor de Sustentabilidade no Departamento de Agricultura da província do Cabo Ocidental e mentor do programa FruitLook, uma tecnologia sustentada por satélite que, com recurso a um complexo sistema algorítmico, permitiu poupar entre 10% a 30% de água usada em monoculturas sul-africanas, onde o vinho é o principal beneficiário.
A África do Sul é um dos países mais afetados pela escassez de água, como procuraram superar essa limitação?
A conservação da água e a gestão da procura têm ajudado a reduzir o uso de água, tanto a nível urbano como agrícola e industrial. Durante a atual seca, os cidadãos da Cidade do Cabo reduziram o seu uso diário de água para apenas 50 litros por pessoa por dia. E o aumento da eficiência no uso da água no setor agrícola permitiu que os agricultores usem menos água quando as restrições hídricas estão em vigor e que plantem culturas de rendimento quando a água está disponível.
Como vê o futuro da agricultura face à crescente escassez de água?
More crop per drop (Mais colheita por cada gota) tem sido o lema por muitos anos, procurando aumentar a eficiência do uso da água. Por outro lado, é preciso considerar culturas alternativas, com menores exigências de água. E há um recurso crescente ao mulching (técnica que envolve a cobertura do solo com plástico ou redes) para reduzir as necessidades hídricas das culturas.
O programa FruitLook permitiu economizar entre 10 e 30% da água usada. Quais são os objetivos futuros?
Disponibilizamos semanalmente a todos os agricultores nas áreas de irrigação da província do Cabo Ocidental, com recurso a dados de satélite, informações sobre o uso real da água, sobre o crescimento das plantas e sobre os minerais nas culturas. Estes dados estão disponíveis para mais de 9,5 milhões de hectares, que incluem pastagens irrigadas, áreas de savana natural e de montanha com vegetação natural. A irrigação de 200 mil hectares de culturas frutícolas pode ser reduzida fazendo uso destes dados semanais, que são fornecidos gratuitamente. O número de utilizadores varia e normalmente cresce ao longo da campanha. No final da campanha de 2018, 306 utilizadores monitorizavam 51 088 hectares de culturas frutícolas, que incluíam 1667 hectares de vinhas. A partir deste ano, será possível a monitorização todo o ano porque os dados passam a ser fornecidos para os 12 meses do ano. E, também, para outras culturas que são irrigadas fora da estação normal de irrigação de frutas, como os citrinos ou as batatas. Através de treinos semanais, queremos aumentar o número de utentes e a área monitorizada.
O que o traz à conferência da Climate Change Leadership e que mensagem deixará?
Acredito que nossa experiência em lidar com a escassez de água pode beneficiar produtores de outros países e espero também aprender com eles como estão a lidar com recursos hídricos limitados.
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