A escavação nos terrenos da antiga Feira Popular revela um grande reaproveitamento de materiais de época para época. O seu passado sobretudo agrícola ficou agora a descoberto.
A chuva forte de segunda-feira enlameou alguns caminhos mas não ocultou a grande rua que atravessa o terreno. Caminhamos nela sobre as mesmas pedras irregulares que pisavam os lisboetas do século XVIII e outros antes deles. Por baixo há outro piso, usado por lisboetas ainda mais antigos, e uma das coisas que Nuno Neto quer perceber é quantas camadas tem esta rua, que em tempos era uma das entradas e saídas a norte de Lisboa.
Num pedaço da via, delimitado por um cordão fino, os arqueólogos procuram vestígios desse chão mais primitivo, sabendo de antemão que ali em volta há algumas estruturas romanas, pelo que não seria totalmente surpreendente chegarem a um nível desse período.
Há algumas estruturas da época romana no terreno onde funcionou a Feira Popular, em Entrecampos, mas não é provável que a escavação arqueológica em curso venha esclarecer mais do que já se sabe. “Vamos tendo uns fragmentos. Uma fiada de pedra, o fundo de um tanque, um poço”, enumera Nuno Neto, director científico dos trabalhos, a cargo da empresa Neoépica. “A ocupação romana é muito pouco expressiva. Do ponto de vista patrimonial está muito destruída.”
Na antiga rua, o arqueólogo aponta para os abatimentos deixados pela passagem de veículos e mostra também os remendos que foram sendo feitos, à semelhança do que hoje acontece em qualquer estrada esburacada. “A via tem sucessivas reparações”, explica. O que não é de estranhar, pois “permitira