António Vicente Marques sempre quis voltar ao interior, onde cresceu, e ali criar um projeto agrícola sustentável. Em 2014, investiu quatro milhões de euros em hectares em Carregal do Sal, distrito de Viseu, para criar a marca Dom Vicente. Três anos depois, o projeto Dom Vicente cresceu e prepara-se para a expansão internacional.
“Fora da minha profissão principal que é a advocacia, quero provar que é possível desenvolver projetos naquele lugar classificado como inóspito, votado à proliferação dos eucaliptos e ao abandono”, começa por contar, em entrevista ao Dinheiro Vivo. Advogado desde 1999 e com uma carreira internacional, inconformado e de espírito empreendedor, acredita que o potencial português podia ser mais bem aproveitado. O projeto Dom Vicente ocupa mais de 50 hectares de vinhas e os primeiros vinhos foram engarrafados em 2018.
“Nos anos 80 começou a vender-se a ideia que Portugal não tem condições para a agricultura. Foi uma traição brutal que se fez ao futuro de Portugal”, lembra, e confessa que foi essa convicção que o fez regressar às origens. Depois de adquirir os terrenos foi necessário revolver as terras e transformá-las para as vinhas vingarem. “O índice de satisfação e realização é muito maior quando fazemos o improvável, o menos óbvio”.
O vinho é a “âncora” deste projeto, mas os terrenos do Dão acolhem animais e oliveiras, que ocupam cerca de sete hectares, possibilitando um ciclo sustentável de produção agrícola. “Para desenvolver um projeto com impacto gostava de fazer uma coisa que já se fizesse ali há mil ou dois mil anos”, explica. Por isso, para este ano o plano é investir cerca de um milhão de euros numa adega de envelhecimento com dois lagares.
O projeto emprega oito colaboradores fixos, além das ocupações sazonais, mas “não é fácil encontrar pessoas no interior. Estamos quase no limite da mão-de-obra disponível”, revela o fazedor, que admite recrutar no estrangeiro.
Os vinhos Dom Vicente estão à venda online e os preços acessíveis saltam à vista. O responsável garante que é “pura estratégia”. “Há mais predisposição para experimentar num preço mais acessível um vinho desconhecido, do que para experimentar um vinho mais caro”, explica.
Para os próximos dez anos, António prevê um crescimento anual de 10 por cento, em termos de produção e operação. Por cá, o projeto já começou a expandir-se para o Algarve, em Tavira, e os primeiros vinhos devem ser lançados este ano. A receita do sucesso é “estar rodeado de pessoas positivas”, sublinha.
Este ano, a marca salta fronteiras para outros mercados e o primeiro destino internacional é Angola. “Está aqui um bom exemplo para contrariar a tendência de se pensar que o interior está morto. Gostava muito que esse fosse o maior motivo de orgulho dos meus filhos”., admite.