Disrupções trouxeram desafios, mas também oportunidades e a substituição do óleo pelo azeite pode ser um exemplo. Mas, em face da atual conjuntura, além das dificuldades em saber onde comprar e a que custo, a grande luta das marcas é pela sua afirmação.
A disrupção nas cadeias de valor que a tempestade perfeita, que veio com a pandemia e se agravou com a guerra na Ucrânia, veio mudar não só a forma como as empresas operam, como o modo como os consumidores se comportam. Em paralelo, trouxe desafios adicionais às marcas que, talvez mais do que nunca, procuram afinar estratégias para se (re) afirmarem e não perderem o seu espaço na prateleira.
Foi pelo menos a essa conclusão que chegaram, esta quarta-feira, vários atores económicos durante um painel subordinado ao fenómeno, inserido no II Congresso das Marcas, organizado pela Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas e Produtos de Marca.
“A maior parte dos problemas a que se assiste é na logística. A dificuldade é como comprar, onde comprar e em que quantidades comprar. A questão hoje é como aceder e a que custos. Esse é o grande problema”, afirmou João Potier, diretor-geral da Mundiarroz, empresa que tem no portefólio marcas como a Cigala.
Embora a guerra em pleno celeiro da Europa tenha colocado o mundo em estado de alerta, o mesmo responsável deixou claro que “esta crise nos cereais não é nova” e deu o exemplo da “grande crise” de 2007 em todo o mundo que levou não só à escassez de cereais, incluindo arroz, como a subidas de preço na ordem dos 40%. Mas “foi um fenómeno que demorou três a quatro meses a resolver”, ao contrário do que se verifica atualmente, ressalvou.
“Agora é mais grave: Há arroz, há cereais, mas estão em outras partes e a dificuldade está em lá chegar”, apontou João Potier, lembrando que, nos últimos anos, particularmente após 2005 na sequência de políticas da União Europeia, países do sudeste asiático, como o Myanmar, Camboja ou Vietname “taparam parte da produção europeia” de arroz.
Em Portugal – explicou – nunca se produziu mais de 50% das necessidades, ou seja, historicamente sempre se importou outros tantos. E no caso da produção nacional, que está a ser semeada por esta altura, o cenário também não é animador. “Não se afigura nada fácil para o próximo ano”, incluindo ao nível dos preços, advertiu, lembrando que há outros fatores que mexem com o desempenho da produção, como a escalada dos preços da energia, dos adubos ou dos produtos fitofarmacêuticos, além de outras questões, que “afetam todos”, como a falta de água.
Para o diretor-geral da Mundiarroz, uma mudança de paradigma tem de acontecer para pôr termo ao atual “paradoxo” que se vive em Portugal. “Temos uma taxa de autobastecimento de 50%, mas do arroz que se produz em Portugal só cá fica 20 a 25%, atendendo a que “conseguimos arranjar um fenómeno de exportação”.
“Temos um mercado de consumo que tem de ser mudado para não haver tanta dependência do exterior. Apesar de a exportação ajudar muito a indústria, até em termos de remuneração, o caminho é conseguir alterar o paradigma”, sublinhou, ao defender que tal passa […]