A Go Organic é uma das maiores produções em modo biológico de porco branco da Europa e fica no Alentejo, na Herdade da Barrosinha, junto a Alcácer do Sal. Ao todo, são mais de 500 hectares, onde a empresa Go Organic contrariou um dos mais velhos dogmas da agropecuária, ao provar que estes animais também podem ser criados ao ar livre, de forma extensiva.
É uma imagem pouco comum, esta de ver enormes varas de porco branco a correr pelos campos de montado, fuçando a terra, à procura de alimento, ou simplesmente a descansar, espojados à sombra de um sobreiro. Afinal, o porco branco é um animal que não pode ser produzido assim, de forma extensiva e em liberdade, como sempre se acreditou. Ou se calhar pode e até resulta como negócio, como empresa Go Organic está a provar, nos mais de 500 hectares que alugou no interior da histórica Herdade da Barrosinha, onde desde há um ano se dedica à produção em modo biológico de porco branco. “Conseguimos contrariar um dos grandes dogmas desta indústria”, afirma, com orgulho, David Silva, administrador da Go Organic, enquanto guia a reportagem da Vida Rural pelos limites da exploração.
Mais de metade do terreno já está ocupado por suínos, distribuídos por três seções de produção, por sua vez subdivididas em 30 parques de 10 hectares, com 60 animais em cada um deles. “Dá entre sete a oito porcos por hectare, ou seja, mil metros quadrados de espaço por animal”, especifica o administrador, revelando que, atualmente, a Go Organic “tem, em permanência, cerca de 2 mil animais em campo”. Mas até ao verão, altura em que esperam já ter em funcionamento um total de 72 parques, o número de animais em campo já deverá ascender a 5 mil. Segundo revela David Silva, “a meta é atingir uma produção de dez mil porcos ao ano”, mas sempre, sublinha, com o “foco no bem-estar dos animais”, uma expressão várias vezes repetida ao longo da conversa com a Vida Rural.
Apostar no bem-estar animal
Sendo uma unidade de engorda, “uma das maiores da Europa”, como realça David, os animais chegam já com cerca de dois meses e são fornecidos pela Sociedade Agrícola Capelinha Branca, sediada no concelho de Vila Viçosa, onde também “nascem em campo, livres de antibióticos e com elevados níveis de bem-estar”. Permanecem depois na herdade da Barrosinha entre 3 a 4 meses, sendo abatidos apenas ao meio ano de vida. “Recebemos 235 animais por semana, que vivem aqui, durante o ano inteiro, ao ar livre e em campo aberto”, sustenta o responsável. Os resultados estão à vista, com os níveis de stresse dos animais a baixar consideravelmente, quando comparados com os das produções intensivas. “Por exemplo, não temos necessidade de mutilar os porcos, cortando-lhes as caudas e limando-lhe os dentes, como acontece nas produções intensivas, para evitar que se mordam uns aos outros”, esclarece.
Para diminuir o stresse, a alimentação está sempre disponível, evitando-se assim disputas na hora de comer e levando os animais a criarem a sua própria hierarquia. “Além da ração, alimentam-se também com o que o meio lhes dá, como bolotas, ervas ou raízes”. Por essa razão, quando os porcos vão finalmente para o matadouro, os parques onde estes estavam ficam durante dois meses em pousio, para a terra recuperar.
O ‘paraíso dos porcos’
“Devido ao clima, Portugal tem condições únicas para a agricultura extensiva”, salienta David. Não é portanto de admirar que na Alemanha, o país que recebe a quase totalidade da produção da Go Organic, esta carne seja vendida como “vinda do paraíso dos porcos”. Uma outra parte da produção, mais pequena, segue para países como Itália e Espanha, mas a breve prazo esta carne deverá também começar a ser comercializada em Portugal, primeiro através de algumas das cadeias de supermercados com quem já estão em negociações e “posteriormente também com uma marca própria”.
O projeto representou, até agora, um investimento total de 3 milhões de euros, um terço dos quais destinado apenas a equipamentos e aos quais se somarão mais 1,5 milhão até final do ano. A exploração conta, por exemplo, com um sistema de recolha de água fotovoltaico, de um furo, que alimenta todos os parques por gravidade. As moradias dos colaboradores, escritórios e demais estruturas são alimentadas com a energia produzida por “um sistema fotovoltaico de ultima geração, com recurso a baterias de lítio, que garantem total independência da rede pública”. Apesar do “custo de produção em regime biológico ser três vezes superior”, como alerta David, o resultado é “uma carne mais saudável e sustentável” e, por isso, também mais valiosa, “que permite recuperar o investimento”.
Neste momento e além das “seis pessoas da região” que trabalham na Herdade da Borrosinha, a Go Organic dá emprego a nove colaboradores na sede da empresa, em Montemor-o-Novo. “Somos uma produção cem por cento nacional, porque os animais também são abatidos em Portugal”. Para o futuro, os objetivos também estão bem definidos: “Pretendemos ser uma referência na agricultura extensiva e biológica em Portugal, oferecendo a mais alta qualidade, mas sempre sob a bandeira da sustentabilidade. Provámos ser possível produzir porcos brancos em modo biológico e extensivo, devolvendo o animal à sua natureza”.