A agricultura de conservação promove a sustentabilidade sem reduzir a produção agrícola, defende painel de especialistas. Politica agrícola europeia ameaça desenvolvimento da agricultura regenerativa e reduz a soberania alimentar.
A agricultura de conservação como opção sustentável para o desenvolvimento da agricultura em contexto europeu foi o tema do painel que juntou Abílio Pereira, técnico agrícola na Quinta de Lagoalva de Cima; Gabriela Cruz, Presidente da APOSOLO – Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo; e Reinaldo Pereira, Campaign Activation em Portugal e Noroeste de Espanha na Bayer.
Em debate esteve não só o futuro da agricultura de conservação, como o impacto no seu desenvolvimento de algumas políticas europeias que preveem a redução do uso de produtos fitofarmacêuticos.
A agricultura regenerativa é um tipo de agricultura que pretende regenerar o solo, o ar, a água e a biodiversidade, de forma que os recursos que são utilizados pelo agricultor não sejam degradados, mas mantidos ou mesmo melhorados. A agricultura de conservação é considerada como uma forma de agricultura regenerativa. Segundo Gabriela Cruz, presidente da APOSOLO, “a agricultura de conservação assenta sobre os pilares da regeneração do solo e melhoria da sua fertilidade, e da proteção da água pela sua utilização eficiente e pela melhoria da sua qualidade. Como exige menos mobilização do solo, emite menos gases com efeito de estufa, e é uma agricultura que contribui para o sequestro do carbono. E que pode manter, e até melhorar, a biodiversidade das regiões, ao regenerar e proteger ecossistemas existentes”, explica a responsável.
A agricultura de conservação utiliza tecnologia que permite preservar os recursos que temos, potenciando-os em termos alimentares
REINALDO PEREIRA, Campaign Activation em Portugal e Noroeste de Espanha na BayerA conservação impõe-se
Este tipo de agricultura tem vindo a impor-se gradualmente, como recordou Abílio Pereira, técnico agrícola na Quinta da Lagoalva de Cima, uma propriedade na zona de Alpiarça que tem uma grande variedade de culturas, produz vinho, cereais, azeite, tem pastorícia, e floresta. Conforme explicou, “a evolução clara da agricultura tem sido no sentido de reduzir os inputs e melhorar a rentabilidade das culturas. Cada vez mobilizamos menos o solo, e deixamos os resíduos das culturas à superfície das terras, combatendo a erosão e ajudando a infiltração da água”. Na sua perspetiva, “nos últimos 30 anos a agricultura de conservação tornou-se uma estratégia fundamental para melhorar a qualidade do solo, reduzir a utilização de adubos e outros químicos, e permitir o aumento da produção e da rentabilidade da mesma para o agricultor”.
Para Reinaldo Pereira, Campaign Activation em Portugal e Noroeste de Espanha na Bayer, os atuais desafios demográficos e as condicionantes ambientais significam que os agricultores terão de continuar a produzir mais, com menos superfície e menos água, ou seja, terão de ser mais eficientes e, em consequência, continuar a usar tecnologia. Na perspetiva deste responsável, “a agricultura de conservação é exatamente uma agricultura que utiliza tecnologia que permite preservar os recursos que temos, potenciando- os em termos alimentares. Vamos continuar a precisar de mais alimentos, e de alimentos seguros e a preços acessíveis”. Acresce que, para este gestor, “com as alterações climáticas, o agricultor vive sob maior pressão de pragas e doenças que não conhece e que tem dificuldade em combater, o que aconselha uma aposta clara em inovação e na digitalização da agricultura”.
A agricultura de conservação é, neste momento, a resposta mais […]