A gestão de bacia do Rio Tejo rege-se há muito por regras que não servem nem o sector agrícola nem os parâmetros ambientais relacionados pelo menos com o conceito de caudal ecológico, nem o interesse do País.
Em especial e tradicionalmente o rio Tejo no seu percurso desde a barragem do Fratel até à junção com a barragem do Castelo de Bode só tem água quando Espanha descarrega ou o Fratel turbina.
Para tal é necessário que não haja vento, não porque a água se mova pela sua acção, mas porque a gestão económica da produção de energia eléctrica a isso impõe, se não houverem leis e regras nacionais que coarctem estas intenções meramente economicistas.
No início da semana 22, semana quase sem vento, o rio veio sempre cheio, em demasia, mas chegados a 3/6 os ventos imperaram e o Tejo secou!
Os vários sistemas regados das baixas entre Rio de Moinhos e de Constância Norte só podem regar do rio pois nesta margem já não há águas subterrâneas que permitam, ao invés do que acontece na margem sul, que quase só usam este meio alternativo.
Por isso há 4 dias, salvo se continuar a não haver água, que grande parte dos sistemas regados da nossa exploração não regam. E com isso os prejuízos, agravados por temperaturas de domingo 6/6 (30º) e segunda feira (33ºC), são já avultados.
Ontem à tarde (7/6) o Fratel passou a turbinar 40 m3/seg. uma insignificância quando sabemos que pode descarregar até 16.500m3/seg. Promessas que o vento pode levar dizem que hoje terça feira 8/6 o Fratel irá turbinar 200 m3/seg pois os espanhóis largaram água!
E a dimensão destes prejuízos, só na cultura do milho representam já, sendo conservador, mais de 4-6 vezes o valor de taxa de recursos hídricos que pago religiosamente todos os anos. O impacto no amendoal é ainda difícil de estimar e no olival, felizmente por ser uma cultura bem-adaptada à falta de água, quase residuais.
Gerindo a rega e a fertilização nesta exploração com todos os mecanismos de ponta actualmente conhecidos (sondas de medição da humidade em continuo, dendrómetros, camara de Scholanger, NDVI, Índices de Stress, espalhamento fertilizantes com sistema VRT,…), ainda não sabemos hoje gerir por antecipação a falta de água por existência de vento.
Resta-me por isso mais uma vez desabafar em publico, só para aliviar a tensão emocional, pois sei que a taxa de recursos hídricos será paga ainda este mês sem qualquer atenuante e que o prejuízo já vive comigo desde sexta feira, como acontece quase todos os anos!
Bem hajam a Todos os que com responsabilidades públicas e políticas permitem, ano após ano, o perpetuar desta situação, digna de um Pais á beira rio plantado.
Estou convosco pois não me deixam estar com quem quero!
José Maria Amorim Costa Falcão
Engº Agrónomo / ISA
Agricultor e Presidente da Direção da APAP
Barragem do Pisão – reflexões para um futuro sem desertificação – José Maria Amorim Falcão