Os representantes da Produção no Conselho Interprofissional do Instituto do Vinho do Douro e Porto, IP, conscientes das suas responsabilidades, apresentaram um conjunto de propostas em defesa dos produtores pois acreditamos que a sua perda de rendimento não pode ser a solução para a crise de vendas com que o Comércio se depara.
Historicamente a relação entre Comércio e Produção tem estado desequilibrada, mas eis- nos chegados a um momento de crucial importância em que se percebe a extrema interligação entre ambas as forças. A sustentabilidade da Região Demarcada do Douro (RDD) depende do ponto certo de um equilíbrio difícil entre profissões, tão necessário como o sol e a água da chuva para as nossas videiras.
O Viticultor deixou de ser o Homem humilde que espera de chapéu na mão por aquilo que lhe calhar em sorte. Honra os seus antepassados que construíram o Douro ao ferro, mas evoluiu. A nova geração, constituída por homens e mulheres, tem formação, muitas vezes dupla, em viticultura e enologia e tem preocupações que passam muito além da componente técnica. A viticultura moderna responsável, abrange toda a sua envolvente nas vertentes ecológica, social e humana (não esquecer os ajustes necessários no futuro derivados da crescente preocupação com o consumo de vinho e a saúde).
Nenhuma estrutura perdura em fundações corroídas e necessariamente a base da viticultura duriense, os seus produtores, tem de ser forte para constituir uma pirâmide digna e majestosa capaz de se exibir ao mundo e ultrapassar as atuais dificuldades.
Não deixa de ser interessante revisitar os anos 30 do século passado e o motivo que esteve na génese da criação da Casa do Douro. Então, como agora, é necessário defender os viticultores de forma organizada e coesa.
É preciso travar o efeito nefasto provocado pela entrada descontrolada na região de milhares de hectares de licenças de vinha que fazem agora inflar os discursos com o excesso de Produção.
A solução para o momento vivido, tem de ser encontrada em sede de Conselho Interprofissional com este equilíbrio em mente. A Produção não pode continuar a ser prejudicada e repudiamos as propostas aprovadas na última reunião de trabalho baseadas numa lógica apresentada por uma parte do Comércio que defende que “se queremos ver o arco-íris teremos de sofrer com a chuva.”
A posição de desempate a favor do Comércio por parte do Sr. Presidente do IVDP, IP enquanto Presidente do Conselho Interprofissional (CI do IVDP) foi um duro golpe para a Produção e coloca toda a região em risco de colapso!
A Produção, tendo proposto a redução do rendimento por hectare para as densidades mais baixas, não teve outro remédio senão, votar unanimemente contra a proposta apresentada no conselho interprofissional do dia 12 de abril de 2024 pelos representantes do Comércio, cujo objetivo a redução generalizada na RDD, de forma cega e sem critério. Os viticultores devem estar preparados para ler no próximo comunicado de vindima que a sua Produção vai ser reduzida nos termos em foi aprovada pelo Comércio e o voto do Presidente apesar de redação do artigo 12º do DL 173/2009 de 3 Agosto (Estatuto das denominações de origem e indicação geográfica da RDD) se manter inalterada.
As quebras na venda de Vinho do Porto que se têm sentido nos últimos anos, fazem antever uma diminuição do quantitativo de autorização de benefício e o consequente aumento da quantidade de uvas disponíveis para os vinhos DOC Douro e IGP. Em resultado da redução do rendimento/ha cega e sem critério proposta pelo Comércio, haverá um aumento de uvas sem denominação de origem que serão pagas a um preço substancialmente inferior e muitas delas sem previsão de compra. Tudo isto se traduz numa grande e acentuada diminuição de rendimento para o viticultor, a acrescentar aos elevadíssimos custos de Produção já existentes, o que se traduz numa calamidade para a Produção na RDD.
Os representantes desta classe no CI do IVDP não aceitam esta situação e votámos contra a medida proposta pelo Comércio, tendo plena consciência que existem outras medidas possíveis para minimizar e regular os “excedentes” da Região.
Enquanto não existir Cadastro nunca seremos capazes de chegar a consenso. Esta ferramenta é essencial para decidir sobre o rendimento por hectare numa região que se subdivide em três sub-regiões que são tudo menos uniformes. Sem cadastro, não conseguimos perceber de forma honesta e eficaz se há ou não área a mais de vinha. Sem cadastro não se conseguem proteger as verdadeiras Vinhas Velhas. O CI do IVDP pretende construir a casa pelo telhado e assim a ruína da região adivinha-se certa.
Enquanto isso, um dos maiores flagelos do Douro, completamente desvalorizado por parte do Comércio, a entrada de vinho de fora da região, continua por resolver. É voz corrente na região que falta fiscalização no terreno para impedir estes atos ilegais e tão prejudiciais à fileira, conforme amplamente discutido nas reuniões com viticultores promovida pelos conselheiros da produção de forma a ouvir os responsáveis pela produção de uvas que dão origem ao famoso Vinho do Porto.
É fundamental discutir com a máxima urgência soluções que salvem esta e as próximas vindimas, tais como:
- Fiscalização e Controlo da entrada de vinhos de fora da região – Uma região que tem excesso de vinho não pode continuar a comprar indiscriminadamente vinhos de fora;
- A utilização de aguardente regional é uma solução interessante que tem que ser estudada urgentemente;
- A colheita em verde, já se pratica com sucesso em muitos países(ex: Espanha) e ao contrário de outras ajudas passadas, dirigidas ao Comércio (Reserva Qualitativa e Destilação de Crise), esta ajuda é dada diretamente aos Viticultores. Ao mesmo tempo que se retira uva do mercado, não se paga vinho de origem desconhecida.
- Criação de um verdadeiro plano de promoção que possa alavancar o setor dos vinhos para fora desta crise.
Fonte: Casa do Douro