O consumo mundial de frutas e legumes está a crescer e deverá valer 4,8 biliões de euros em 2030. Regressadas às feiras internacionais, as empresas olham sedentas para esta janela de oportunidade. Querem “realismo” e “visão política” do Governo, acesso ao regadio e agilização dos fundos europeus.
O negócio mundial das frutas e legumes deverá valer 4,8 biliões de euros em 2030, de acordo com um estudo de tendências divulgado em 2018 pela organização da feira Fruit Logistica de Berlim. A Ásia e a Oceânia deverão representar 56% das compras globais do sector e a Europa 16%. E os países já dão sinais de responder a essa procura. A Associação Mundial da Maçã e Pera (WAPA) estima que, na campanha de 2021, na Europa, se colha mais 10% destas frutas (11.735.000 toneladas) face à campanha anterior (10.705.000 toneladas). A estimativa da WAPA para Portugal aponta para 312.000 toneladas de maçã este ano, mais 12%.
Os números do Fruit Logistica Trend Report 2018 tinham sido estudados pela Portugal Fresh — Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal bem antes da pandemia, mas a resposta ao crescimento da procura destes “alimentos mais saudáveis”, como a eles se refere o presidente, Gonçalo Andrade, travou a fundo com a covid-19.
Apesar disso, as exportações portuguesas do sector cresceram 5% de 2019 para 2020 (de 1605 milhões de euros para 1683 milhões) e devem atingir os “2500 milhões até 2030”. Até Julho deste ano, somaram 804 milhões de euros e devem chegar aos 1700 milhões até Dezembro. Por sua vez, “o volume de negócios deverá subir para os 4000 milhões nos próximos dez anos”, avança a Portugal Fresh, ou seja, mais 1000 milhões de euros do que factura actualmente.
“O pós-pandemia está a começar a acontecer”, disse, sorridente, um responsável da Campotec à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, que visitou a Fruit Attraction de Madrid na quinta-feira. Isso também quer dizer que as empresas de frutas e legumes olham agora com outros olhos para o potencial de expansão, em Portugal e no mundo.
“Temos uma oportunidade de crescimento muito grande”, referiu ao PÚBLICO Gonçalo Andrade, ciente, ainda assim, de que o incremento da produção, do volume de negócios e das exportações tem de fazer-se “com respeito pela sustentabilidade ambiental, social, mas também económica”. “A senhora ministra da Agricultura já recebeu as nossas reivindicações. Espero que tomem as medidas adequadas para aproveitar este potencial.” Até porque, avisa, “se Portugal não o fizer, alguém o vai aproveitar”.
Rateio de água no Mira
Crescer implica, porém, debelar “constrangimentos”. Entre eles, os do acesso à terra com qualidade, à mão-de-obra qualificada e os problemas logísticos, como a “supressão de rotas internacionais, a escassez de contentores ou o agravamento dos custos cambiais e de transporte”, por exemplo, como relatou ao PÚBLICO David Mota, o novo CEO da Luís Vicente, empresa de frutas de Torres Vedras. E é preciso resolver o “acesso ao regadio”, a “burocracia” e os “tectos nos apoios ao investimento”, reivindica a Portugal Fresh, posição que é corroborada pelos empresários presentes em Madrid com quem o PÚBLICO falou.
João Alves, administrador da LusoPêra, explica: “Há escassez de água, dificuldades de retenção e de assimilação pelos solos, problemas com a qualidade da água. Precisamos de pequenas barragens, charcas, transvases e outras soluções, porque, sem água, o sector não tem futuro e as novas gerações não se instalam.”
José Burnay, administrador da Campotec, toca na mesma tecla. O […]