“Só os entendidos entenderam” porque coloquei a foto de uma espiga de milho, partida, como primeira foto do meu álbum da silagem. É certo que escolhi a foto porque achei bonita, mas houve um motivo agronómico para partir a espiga. E, depois de ver as publicações de dois colegas, lembrei-me que também devia dar aqui uma explicação.
A verdade é que passei as últimas semanas a partir espigas de milho nos vários campos à procura da “linha do leite”. O que é isso? Bem, enquanto o milho está verde, o grão tem dentro um líquido esbranquiçado que parece leite. À medida que começa a amadurecer, perde humidade de fora para dentro. A parte mais escura já está seca e endurece. O objetivo é colher a planta do milho com 32 a 35% de humidade e isso ocorre quando a “linha do leite” está a meio do grão.
A espiga é a parte mais importante do milho, pois é no grão, sob a forma de amido, que a planta armazena o açúcar proveniente da fotossíntese feita nas folhas. A espiga é tão importante que no milho grão o resto da planta é palha que fica no campo como restolho ou se usa para fazer a cama dos animais. Antigamente usava-se para “encher a barriga às vacas” junto com erva fresca ou como “telhado”, nos cabaneiros, que serviam de abrigo . Ainda vi um desses, aqui ao lado na Azurara, há mais de 30 anos.
O que acontece se colhermos o milho cedo demais, com muita humidade? Tem menos amido (menos energia para as vacas, o que nos vai obrigar a comprar mais ração para compensar), terá uma pior fermentação e os líquidos que escorrem do silo levam consigo alguns nutrientes. Por outro lado, se o milho for colhido demasiado tarde, a fibra do resto da planta é menos digestiva, o amido é menos digestivo e é mais difícil de compactar o silo e retirar o oxigénio, prejudicando a fermentação e originando bolores.
Por norma, cada variedade de milho tem um número de dias aproximado para ficar maduro e, portanto, a partir da data de sementeira podemos apontar a data de colheita. Contudo, a temperatura ao longo da cultura (cerca de 4 ou 5 meses) afeta o amadurecimento do milho. Os dias quentes de julho e do início de setembro aceleraram alguns dias a colheita. Os técnicos das empresas que nos vendem as sementes recorrem a aplicações com os dados do clima para nos dar uma previsão da colheita.
Tudo o que escrevi atrás é válido para escolher teoricamente o dia mais correto para ensilar. Na prática, como no resto da vida, temos de fazer acertos e concessões. Temos de procurar o meio termo dos vários campos, se não foram semeados no mesmo dia ou com a mesma variedade, dependemos da agenda do prestador de serviços que nos corta o milho, de quem vem transportar, de evitar alguma consulta marcada no médico, de um imprevisto como avarias na máquina da silagem que atrasam o serviço… e do S. Pedro que pode mandar uma chuva e atrasar tudo!
E entretanto, que se faz às espigas recolhidas para amostra do amadurecimento do milho? Umas ficam no campo penduradas para ensilar, outras vem para casa e servem para entreter alguém a debulhar para as galinhas comer😁…
#carlosnevesagricultor
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