Para afugentar as aves dos pomares de amêndoa, os agricultores recorrem a tiros de pólvora seca retirando o sossego às comunidades rurais de manhã cedo até ao início da noite.
Só em Alqueva, a área coberta com amendoais já ultrapassou os 15 mil hectares. E não vai ficar por aqui. Com a floração da amendoeira da família das Rosáceas (Prunus dulcis) em tão grande extensão de terra coberta por esta cultura de frutos secos, tudo fica rosa nos campos do Alentejo. Mas este cenário idílico tem uma banda sonora que está a desesperar os moradores: o ar enche-se de tiros para afugentar as aves.
É um dos acontecimentos naturais a anunciar a Primavera e dos mais profícuos pelo alimento que é oferecido a diversas espécies de avifauna selvagem, o que gera um “conflito de interesses” com os proprietários dos amendoais. A concentração de milhares de aves que buscam nas flores da amendoeira o rebento do fruto que germina prejudica seriamente a produção dos pomares.
Para obviar à invasão das aves, os produtores de amêndoa avançam, então, com os sistemas espanta pássaros que usam o ruído como principal arma nesta “guerra”. Dispõem de um temporizador ajustável entre denotações, provocando a debandada de todo o tipo de pássaros consoante a frequência desejada que pode variar entre os 30 segundos e os 15 minutos.
Fica superado o contratempo que afectava os agricultores mas o ónus do problema passa para os moradores dos montes alentejanos e das pequenas localidades rodeadas de amendoais, que ficam privados de sossego. Das 7h até às 19h, todos os dias, sábados, domingos e feriados incluídos, os campos enchem-se de um ruído intenso e constante provocado pelos disparos de canhões de pólvora seca ou a gás.
Moradores de Santa Clara do Louredo, freguesia nos arredores de Beja, disseram ao PÚBLICO que é um “suplício” conviver com o ruído emitido pelos sucessivos disparos dos espanta pássaros. “Tenho de manter as janelas fechadas para abafar o som mas, mesmo assim, parece que estão aos tiros à porta da minha casa”, queixa-se uma residente. Diz compreender que os produtores de amêndoa “queiram manter os pássaros longe das árvores, mas devia haver