Volto a escavar este assunto e meter a cabeça fora de terra porque o texto que escrevi sobre as estas “amigas” toupeiras suscitou reações opostas.
Por um lado, houve quem pensasse que eu só tinha ali toupeiras por não usar pesticidas e outros disseram que haveria mais toupeiras se não colocássemos tanta “porcaria como químicos” nos terrenos. Bem, eu coloco herbicida todos os anos naquele campo, coloco em todos os campos (uma vez por ano) e o meu pai, os meus senhorios ou os pais deles já usavam herbicidas há dezenas de anos e as toupeiras ainda ali estão, mais nuns campos, menos noutros, mas estão em todos os campos, o que é uma prova que há vida no solo. É falso que se tenha matado ou esterilizado o solo dos campos que cultivo ou dos vizinhos que observo.
Por outro lado, isto responde também às pessoas que me contactam, no sentido oposto, a perguntar o que podem deitar na terra para “acabar” com a praga das toupeiras. Não adianta deitar herbicidas ou inseticida para o milho nem aconselho qualquer outro produto químico de “síntese” ou “natural” cujo efeito desconheço.
O que eu tentei dizer no texto anterior é que para mim as toupeiras são animais uteis porque comem bichinhos e não me estragam o milho. Publico aqui fotos de uma parcela que esteve vários anos com luzerna, sem lavrar, tem uma enorme população de toupeiras e não houve problemas de escavarem por baixo da linha do milho, o que o faria secar. Talvez, isto é só uma hipótese que levanto pela minha observação, talvez aconteça porque eu não passo o cilindro por cima da sementeira, o semeador calca bem na linha do milho e estando mais apertada a terra aí as toupeiras preferem as entrelinhas para as suas escavações.
Queria chamar a atenção para uma coisa importante. Esqueçam lá essas ideias de “eliminar”, “erradicar”, “acabar de vez” com alguma praga como toupeiras, formigas, ratos, moscas ou lá o que for. Pode servir para vender produtos ou chamar a atenção mas não é uma boa ideia.
Primeiro, é muito difícil ou quase impossível acabar “de uma vez por todas” com qualquer espécie (ou qualquer problema). “A vida encontra sempre um caminho” – não está na bíblia mas é uma frase do filme “parque jurássico” e acreditem que é verdade – há sempre alguém, há sempre um indivíduo que escapa, sobrevive e se reproduz.
Segundo, é um disparate perigoso erradicar alguma coisa da natureza. Vai haver um desequilíbrio, vai faltar um predador ou uma presa, vai vir outra espécie ou outra praga para o lugar e podemos passar de mal a pior. Até os ratos ajudam a limpar os esgotos, segundo ouvi dizer…
Portanto, a atitude correta é “controlar” as pragas, controlar o acesso das pragas ou de alguma forma proteger as culturas para que os seus danos sejam mínimos e não gastar mais a “tratar” do que o valor que vamos ganhar com isso (é um dos princípios da “produção integrada”, uma coisa que não vem agora ao caso mas vale a pena abordar noutra ocasião). Controlar as ervas daninhas, os insetos ou qualquer outra coisa que se torne praga, o que não é o caso das toupeiras nos meus campos ou dos meus vizinhos.
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.