Várias centenas de agricultores manifestaram-se hoje, em Lisboa, reivindicando uma Política Agrícola Comum (PAC) mais justa e adequada às necessidades do setor, que desenvolva as zonas rurais e promova os circuitos curtos de comercialização.
Os agricultores saíram à rua na véspera da reunião informal dos ministros da Agricultura e do Mar da União Europeia (UE), concentrando-se, pelas 15:40, na Junqueira, em Lisboa, tendo seguido, posteriormente, em direção ao Centro Cultural de Belém (CCB), centro logístico da presidência portuguesa do Conselho da UE, ao som de bombos e chocalhos.
“A principal razão que nos fez vir hoje a Lisboa prende-se com a reforma da PAC que, por aquilo que vamos conhecendo, vai continuar a provocar a eliminação de pequenos e médios agricultores. O que nós vemos é que esta PAC vai continuar a ter uma política de preços baixos”, afirmou o dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Pedro Santos, em declarações à Lusa.
Os agricultores reclamam uma PAC que desenvolva a agricultura familiar, as zonas rurais e promova os circuitos curtos de comercialização.
De acordo com Pedro Santos, tal só será possível tendo na base os pequenos e médios agricultores.
Para a confederação, a nova política agrícola vai continuar a ser muito semelhante à anterior, tendo em conta que o funcionamento do mercado e o rendimento dos agricultores não vão sofrer alterações.
“Desde que integrámos a União Europeia, desapareceram mais de 400.000 explorações agrícolas. Há que alterar este número e ajudar os agricultores a manter a sua atividade. Apenas queremos vender os nossos produtos a preços justos”, apontou.
O dirigente da CNA lamentou ainda que os apoios da PAC estejam “muito mal distribuídos, com 7% dos agricultores a receberem 70% das ajudas”, sobretudo, para a grande agricultura, industrial e intensiva.
Os agricultores reivindicam ainda a adoção de um “pagamento uniforme” por hectare nas ajudas diretas, o aumento do regime da pequena agricultura para 1.000 euros em 2022, bem como a sua subida progressiva até 1.250 euros em 2023, a prorrogação dos compromissos da medida de apoio à produção integrada e a criação de um pagamento ligado aos cereais.
A par da PAC, o setor quer ser indemnizado pelos prejuízos causados por animais selvagens, como javalis, e pelas intempéries, mais apoios para mitigar o impacto da pandemia de covid-19, medidas de apoio à redução dos custos de produção, o reforço financeiro do aviso para a modernização dos tratores e a concretização do estatuto da agricultura familiar.
A CNA exige ainda que o Governo cumpra a lei e realize eleições para a Casa do Douro.
Presente na manifestação esteve também o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, que demonstrou uma “solidariedade muito grande com estes homens e mulheres que não param”.
O líder do Partido Comunista, que falava aos jornalistas, defendeu que estes trabalhadores “mereciam outra consideração por parte do Governo, que continua com o vício repetido, com as ajudas direcionadas para os grandes senhores do agronegócio, enquanto os pequenos e médios agricultores continuam com dificuldades tremendas”.
Jerónimo de Sousa disse, por outro lado, que o executivo está hoje em condições de concretizar medidas de apoio “na fatura do gasóleo verde, em que 20% do preço da fatura é descontado para aqueles que tiverem menos de 50 hectares e 10% para os que tiverem mais de 50 hectares e 80 cabeças de gado”.
A conclusão da reforma da PAC até ao final de junho é um dos objetivos da presidência portuguesa.