Ontem usei a velha fresa para limpar as ervas daninhas que cresciam em alguns caminhos de rega. Noutros campos passei a capinadeira para o mesmo fim. Chamamos “caminho de rega” ao espaço livre que deixamos no meio das searas de milho para que possa passar o “trenó” onde está fixado o “canhão de rega”, “bico” ou “aspersor”. Quando o meu pai comprou esta fresa há 42 anos, não havia caminhos de rega. Colocavam-se os tubos amarelos da “Facar” pelo meio do milho com os pequenos aspersores ou com o tripé do canhão de rega, e era um esforço enorme para mudar a rega de sítio. Depois vieram os tubos brancos da heliflex mas o serviço não melhorou. Antes disso, há 50 anos para trás, também não havia caminhos de rega, regava-se por alagamento com a ajuda de regos abertos pelos arados entre as linhas do milho.
Nessas alturas havia muita gente para o trabalho agrícola e era quase um sacrilégio deixar assim um caminho no meio do campo sem semear. Depois, numa fase de transição, o meu pai passou a semear sorgo na zona do caminho da rega e no cabeceiro, porque “abrir os caminhos” à foucinha e carregar para o reboque ou mais tarde meter à posta na máquina de ensilar era outro frete que exigia a ajuda de jornaleiros e familiares que deixaram de existir. Se os nossos avós vissem estes “caminhos” por semear que hoje deixamos nos campos iam moer-nos o juízo, mas os tempos são diferentes. Antigamente faltava terra para cultivar, hoje falta gente para a trabalhar manualmente, e desta forma com menos gente e com as máquinas conseguimos cultivar mais área que entretanto ficou disponível.
Curiosamente, quando usamos “rega gota a gota” não são precisos caminhos de rega e com as “novas”automotrizes para ensilar (coloquei aspas porque já chegaram há 20 anos à nossa região) também não precisamos destes caminhos para começar a ensilar. Antigamente eram necessários porque a máquina cortava uma linha de milho ao lado do trator.
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.