No seguimento do Workshop “Balanço Final do Ano Vitícola 2020”, promovido pela ADVID, disponibilizamos agora o respectivo Boletim.
Resumo
O Ano Vitícola de 2019/2020 caracterizou-se por algumas oscilações nos valores de temperatura e precipitação anual relativamente ao valor histórico, considerando-se um ano quente e seco.
Em consequência da precipitação registada na Primavera, verificou-se uma elevada pressão de doenças. O míldio destacou-se pela sua precocidade, num período de elevada sensibilidade, reflectindo-se na produção. O oídio manteve-se activo até ao Pintor, obrigando à realização de um maior número de tratamentos até ao final do ciclo.
A traça-da-uva apresentou uma reduzida nocividade, registando-se pontualmente ataques mais significativos, em parcelas com historial de ataque. Quanto à cigarrinha verde, contabilizou-se uma maior presença de ninfas de 2ª e 3ª gerações em algumas parcelas do Douro Superior, verificando-se sintomas de “queima”.
Fruto do acumulado de precipitação verificado, com Abril a ter um papel preponderante (acréscimo de cerca de 31% e 35% face ao período homólogo de 2019 e à NC, respectivamente), a componente hídrica não se apresentou como um factor limitante ao normal desenvolvimento da videira até uma fase bastante avançada do ciclo (Défice Ligeiro ao Pintor). Em meados de Agosto foi verificado o valor mais negativo de Ψbase (-0,73MPa; Défice Forte), tornando-se claro o impacto do mês de Julho, extremamente quente e seco, sendo inclusivamente o mais quente desde 1931 segundo o IPMA. Após a precipitação ocorrida no dia 20 de Agosto (cerca de 20mm) verificou-se uma recuperação dos valores de potencial hídrico foliar de base, situando-se à vindima nos -0,72MPa (Défice Forte). A ADVID acompanha a evolução do Ψbase nesta parcela (Soutelo do Douro) desde 2002, sendo este um ano claramente menos seco em comparação a, por exemplo 2005, 2015 e 2017, onde se verificaram Défices Severos, com valores mínimos de Ψbase entre os -1.25MPa e os -1,40MPa. Para as restantes parcelas de referência, com menor histórico, mas onde a ADVID promove o mesmo trabalho, a tendência verificada foi similar.
De acordo com os dados recolhidos, o ciclo vegetativo nas três sub-regiões apresentou um avanço, tanto em comparação com 2019, como à média dos últimos 6 anos (2014-2019). As vindimas este ano tiveram uma antecipação de 5 a 16 dias face à média 2014-2019, com início na terceira semana de Agosto e término a meados de Setembro.
Tendo em conta as condições climáticas ocorridas até 14 de Julho (data de realização do Balanço Intercalar), foi considerado que a previsão de colheita dever-se-ia situar perto do limite superior previsto pelo modelo pólen, o que significaria uma perda de produção na ordem dos 20%, relativamente a 2019.
Contudo durante a última semana de Agosto e as duas primeiras semanas de Setembro, verificou-se uma dessecação dos cachos, preponderantemente na casta Touriga Franca (principal casta da região), cuja origem ainda não foi possível determinar, que provocou uma quebra na produção superior à prevista pelo modelo de pólen. Estima-se que a produção relativamente a 2019, tenha uma quebra de 30 a 35%.
Dos factores com maior impacto na quebra de produção, destacam-se o menor número de cachos (menor fertilidade) e fenómenos de desidratação a partir do final de Agosto.
As vindimas foram precoces, mas proporcionaram mostos de boa qualidade, com elevados teores de açúcar, bons níveis de acidez e de compostos fenólicos.