Uma equipa de biólogos esteve a remover espécies invasoras e a instalar ninhos artificiais na Reserva Natural das Berlengas nos últimos cinco anos para, a par do controlo de visitantes, haver uma gestão mais sustentável do espaço.
“Conseguimos aproximar a ilha àquilo que era antes da chegada do ser humano e dos problemas associados a essa chegada, com uma biodiversidade mais assegurada e com maior probabilidade de se manter no futuro”, refere à agência Lusa a bióloga Joana Andrade, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e coordenadora do projeto “Life Berlengas”, que termina este mês.
Os investigadores implementaram medidas para minimizar as ameaças que estavam a afetar a fauna e flora naturais desta área protegida: a existência de “espécies não nativas, o crescente impacto do turismo desregrado e a forte pressão piscatória”, conclui o relatório dos cinco anos de trabalho, a que a Lusa teve acesso.
O efetivo de gaivotas foi controlado, através da destruição dos ovos, passando de 90 mil no final do século XX para as atuais 13 mil.
A redução contribuiu para o crescimento de espécies como as armérias, vegetação cujos tufos as gaivotas transformam em ninhos, destruindo-as.
Os ratos pretos (cerca de três mil) e os coelhos (podiam ser mais de uma centena) que se alimentavam de vegetação nativa da ilha foram eliminados, tendo os últimos sido avistados no final de 2018.
Também 90% do chorão, vegetação que cobria grande parte das falésias da ilha da Berlenga, foi removido, para permitir o crescimento de vegetação endémica.
Ao mesmo tempo, foram instalados ninhos artificiais para incentivar a nidificação de aves marinhas nativas, como a cagarra e o roque de castro.
Com a redução de gaivotas e o fim dos ratos, que até então comiam ovos e crias, várias aves marinhas passaram a ter melhores condições para nidificar, como foi o caso do roque de castro, que nidificou e teve a sua primeira cria no último inverno.
Os investigadores sensibilizaram ainda os pescadores e foram introduzidas modificações nos anzóis e nas artes de pesca para minimizar as capturas acidentais de alcatrazes, cagarras, galhetas e corvos marinhos pelos pescadores.
“Se deixarmos muito tempo a arte na água após a largada, apanha muitos pássaros. Para que isso não aconteça, largamos os caranguejos pilados para evitar capturar os pássaros”, explica à Lusa Pedro Jorge Nunes, um dos pescadores da ilha.
Nos últimos cinco anos, foi também criado um centro de visitantes e instalada sinalética ao longo da ilha, dando ao visitante mais informação, consciencializando-o para a preservação do património natural e contribuindo para uma maior compatibilização entre turistas e valores naturais.
Apesar de o projeto estar a terminar, muito há a fazer.
As prioridades, aponta a bióloga, deverão ser “tornar a ilha sustentável em termos energéticos, abandonando recursos à base de combustíveis para fornecimento de eletricidade, instalar sistemas de tratamento dos esgotos e melhorar o tratamento dos resíduos, incentivando os próprios visitantes a levarem o seu lixo de volta para Peniche”.
O projeto teve como parceiros a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Câmara Municipal de Peniche, a Universidade Nova de Lisboa e a Escola Superior de Tecnologia e do Mar do Instituto Politécnico de Leiria.
O investimento de 1,3 milhões de euros foi financiado pelo Programa LIFE+ da União Europeia e pelo Fundo Ambiental.
O arquipélago, no distrito de Leiria, foi classificado em 2011 como Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), em 1997 como sítio da Rede Natura 2000 e em 1999 como Zona de Proteção Especial para as Aves Selvagens. Tem ainda estatuto de reserva natural desde 1981.