O despovoamento e a falta de investimentos que promovam o emprego destacam-se entre os problemas por resolver em Pedrógão Grande e concelhos vizinhos, dois anos após o incêndio de 17 de junho de 2017.
“Ainda há muito por fazer”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Pedrógão Grande, Valdemar Alves, lamentando não terem chegado a concretizar-se os investimentos previstos por diferentes empresas para este município do distrito de Leiria.
Valdemar Alves é um dos 43 arguidos no inquérito às alegadas irregularidades nas ajudas à reconstrução de casas atingidas pelo fogo de 2017.
“Tínhamos duas ou três empresas estrangeiras que queriam vir investir em Pedrógão Grande. Mas, depois, começaram a desculpar-se com tudo o que a comunicação social tem dito e desistiram”, afirmou.
Eleito pelo PS em outubro de 2017, após um primeiro mandato pelo PSD, ele é igualmente arguido no processo para apuramento de responsabilidades na ocorrência do incêndio, condição que partilha com o presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos, Jorge Abreu (PS), e Fernando Lopes (PS), que liderou o município da Castanheira de Pera, entre outros.
“Temos muita gente amiga no concelho. Mas há também pessoas, não mais que meia dúzia, que ainda têm força para espalhar o ódio”, disse, sem mencionar nomes.
Em março, ao assinalar o arquivamento de outro inquérito do Ministério Público, relacionado com suspeitas de fraude na entrega de donativos às vítimas do incêndio, Valdemar Alves alegou que a polémica em torno do assunto teve origem em movimentações políticas locais contra si.
Segundo o autarca, os projetos abandonados pelos promotores eram nas áreas do turismo e plantas medicinais.
Há dois anos, logo após a tragédia, em que morreram 66 pessoas e mais de 200 ficaram feridas, o grupo Lusiaves anunciou um investimento de 60 milhões de euros na produção de aves em Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró de Vinhos, totalizando a criação de 300 empregos, mas nenhum dos empreendimentos avançou.
Aos “problemas de ordenamento florestal e do território”, o seu colega de Figueiró dos Vinhos junta “o declínio demográfico e um insuficiente desenvolvimento económico, comum aos territórios de baixa densidade”.
Estas questões “irão obrigar a uma resposta alargada e reforçada, pois só desta forma se corrigem desequilíbrios estruturais que permanecem há décadas”, refere Jorge Abreu, numa declaração escrita enviada à Lusa.
Quanto ao “projeto-piloto de reflorestação” das áreas ardidas, dando primazia às espécies autóctones, “vê-se pouca coisa ou mesmo nada”, criticou, por sua vez, Valdemar Alves.
O autarca referia-se a um projeto anunciado pelo primeiro-ministro, António Costa, no dia 28 de junho de 2017, onze dias após o fogo, numa reunião com autarcas da região.
“Os jovens continuam a sair do território que, se estava desertificado, desertificado está”, acrescentou.
Já em Figueiró dos Vinhos, “a reconstrução física (…) está próxima da sua conclusão, no entanto, inúmeros desafios permanecem e vão obrigar a uma atenção redobrada”, de acordo com Jorge Abreu.
“A maior vulnerabilidade à ocorrência de incêndios ainda não está debelada. Refiro-me aos problemas de ordenamento florestal e do território, ao declínio demográfico e um insuficiente desenvolvimento económico”, opinou.
O autarca realçou a “ampla resposta” na ajuda às famílias e na reconstrução de casas e infraestruturas públicas, bem como “o apoio à atividade económica através do restabelecimento produtivo das empresas, a proteção dos recursos hídricos e de alguns elementos naturais mais relevantes”.
“Houve da parte do Governo central o apoio que se exigia e hoje a reconstrução daquilo que é possível reconstruir, num tão curto espaço de tempo, é uma realidade observável e muito próxima da conclusão”, referiu.
A Lusa tentou obter também o testemunho da presidente da Câmara da Castanheira de Pera, Alda Carvalho (PSD), que não se mostrou disponível.