“A procura de batata-doce no mercado tem vindo a aumentar, por isso apostámos na cultura”, afirma o produtor. Mas Pedro Militão não deixa de referir que as condições climáticas deste verão frio “não têm ajudado ao seu desenvolvimento, porque é uma cultura que precisa de muitas horas de sol e calor”.
A instabilidade climática está a condicionar, cada vez mais, as opções dos agricultores. A reportagem da VIDA RURAL visitou uma das explorações da Sociedade Agrícola Militão Herdeiros, no Mouchão do Escaroupim em Salvaterra de Magos, na segunda quinzena de junho e a batata-doce estava ainda muito atrasada. O sócio-gerente frisa que “este ano está-se a desenvolver pouco porque tem estado frio, principalmente de noite, o que não tem ajudado ao seu desenvolvimento”. Aliás, Pedro Militão adianta que “tudo se atrasou logo na entrega das plantas pelos viveiros porque houve pouca luz, estando atrasados quase um mês”. A colheita deverá, por isso, ser a partir de meados de outubro.
Falando da opção por esta cultura, em rotação com outras mais habituais na região, o produtor salienta que “fazemos 130 hectares de culturas, em terrenos próprios e arrendados e o pilar da nossa empresa é a diversificação, por isso tomámos esta opção há três anos, por sugestão da Torriba, Organização de Produtores com quem trabalhamos, porque a procura de batata-doce no mercado tem vindo a aumentar”. Diz ainda que “é um produto que está na moda, cujo consumo tem estado a crescer e há também novas aplicações, por exemplo a Coca-Cola tem feito experiências com batata-doce roxa para substituir alguns corantes”.
Nelson Correia, técnico da Torriba que acompanha este agricultor, explica-nos que “a cultura da batata-doce surge numa estratégia de rotação que aconselhamos sempre e que este produtor segue, apostando em tomate, batata, milho, cenoura, ervilha, pimento, brócolo e batata-doce” e adianta: “retira a ervilha e coloca milho, colhe a cenoura e planta batata-doce, e depois do pimento põe brócolo, por exemplo”.
O pimento, tal como a batata-doce, é umas das culturas mais recentes, com colheita mecânica de verde e vermelho.
Todos os tipos de batata para vários destinos
O produtor diz-nos que faz “cereal para rodar com o tomate, apesar de o preço estar baixo, e a batata-doce é uma cultura intercalar para rodar com a ervilha ou com a batata, tal como o amendoim é alternativa ao milho e à ervilha” e acrescenta que “a plantação faz-se em maio e junho”.
“Começámos por fazer três hectares e este ano já vamos em 18”, diz Pedro Militão e adianta que “temos três tipos de cliente: em fresco para o mercado nacional e para exportação, para a indústria – diretamente para um cliente já antigo, mas também através da Torriba, e para propagação de semente”.
Plantou diversas áreas de todos os tipos de batata-doce, explicando que “a branca e a roxa são mais neutras, enquanto a amarela e a laranja são mais adocicadas” e “o consumo é hoje muito mais versátil, quando antigamente se fazia quase só no forno, e tem um ciclo de vida maior, embora esteja mais concentrado no inverno”.
Falta de mão-de-obra é principal problema
Antes da plantação (no viveiro, em estufins) são colocadas em camalhões, as guias, com quatro ou cinco ‘olhos’ que se cortam para replantação, sendo enterrados três e ficando de fora um ou dois. Depois, para a plantação são feitos camalhões de 1,5 metros, como no tomate, são colocadas as plantas, coloca-se terra em cima e rega-se.
Nas suas plantações de batata-doce Pedro Militão tem entre 33.000 e 40.000 plantas por hectare. A produção de diferentes calibres é encaminhada de acordo com o destino: “para a indústria vão as de calibre maior, depois o mercado de fresco gosta de batata-doce entre os 200 e os 750 gramas e para propagação quanto mais pequenas melhor (na ordem dos 100 gramas é o ideal)”.
O produtor diz-nos que esta “é uma cultura técnica, que necessita de alguma mão-de-obra, principalmente para a monda de controlo das infestantes, que é uma área que ainda não está bem trabalhada”.
A falta de mão-de-obra é um dos principais problemas que Pedro Militão refere, uma vez que a apanha é manual. Revela ainda que “é, assim, uma cultura cara, porque, além da mão-de-obra, está muito tempo na terra, atingindo custos na ordem dos 9.500€ a 10.000€/hectare”. Nelson Correia adianta que “a planta e a plantação representam cerca de 50% deste custo”.
Maiores problemas de infestantes do que fitossanitários
O técnico da Torriba salienta que “não tem havido problemas fitossanitários relevantes, mas que em relação às infestantes, muitas vezes os herbicidas não resolvem”.
O produtor faz adubação de fundo, com adubo orgânico e mineral, através de fertirrega, “que é mais eficaz e não há tanta perda de produto, mas também fazemos alguma aplicação foliar” e afirma que “para esta cultura aposto em solos mais arenosos para não ter depois problemas na conservação”.
Quando é altura passa-se com o destroçador “e a batata fica em regime de ‘cura’ em cima da terra a encascar durante duas semanas, depois apanha-se com o solo seco”, salientando que “a batata-doce nova aparece no mercado normalmente entre 15 de setembro e 15 de novembro, fora isso é de conservação” ou importada. O armazenamento deve ser feito em local arejado e fresco, com temperaturas médias de 13/14 °C.
A Ipomea batatas L, nome científico desta planta herbácea de raízes tuberosas, é originária da América do Sul e em termos de valor nutricional destaca-se o baixo índice glicémico.
Em Portugal, a maior parte da produção concentra-se na zona do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (área de produção da Batata-Doce de Alzejur IGP), devido ao clima moderado, solos arenosos, localização perto do mar e onde as geadas são menos frequentes.
Sempre à procura de culturas alternativas
À margem da reportagem sobre batata-doce, o técnico da Torriba refere que a Organização de Produtores tem vindo sempre a procurar culturas alternativas para os seus associados fazerem rotações. “Temos já 17 ou 18 culturas e muitas já fora do nosso âmbito mais habitual – os hortofrutícolas – como a vinha ou os cereais, nomeadamente trigo e azevém, que introduzimos no ano passado, mas também, o girassol e o amendoim”, afirma.
Nelson Correia salienta, no entanto, que “99% das nossas culturas são agroindustriais, como a curgete, o brócolo, a beringela e o pimento”, mas adianta que “como o nosso grande problema é a falta de mão-de-obra, desde há cinco anos que temos máquina de colheita mecânica de pimento”.
A Organização de Produtores de Hortofrutícolas, fundada em 1997, representa 150 produtores com uma área de produção de cerca de 6.000 hectares, localizada essencialmente na região do Ribatejo.