A cava Santa Julia, pertencente à vinícola argentina Familia Zuccardi, anunciou uma novidade que está a provocou muita curiosidade no mercado de bebidas e que começa a ser uma tendência: o vinho em lata. Trata-se de uma iniciativa que procura ‘roubar’ mercado à cerveja mas que pode gerar alguma resistência entre o público consumidor de vinho, que costuma ser mais conservador e tradicional.
O lançamento foi feito inicialmente nos Estados Unidos, com quatro variedades distintas: Santa Julia Orgânica, Malbec Rosé, Chardonnay e Tintillo, todos em latas de 375 ml. De acordo com a vinícola, o objetivo é oferecer uma alternativa mais prática, conveniente e fácil de transportar para atrair os “bebedores de vinhos modernos”.
Os testes realizados apontaram que o novo recipiente de aço inoxidável não alterou o sabor do vinho, tendo sido aprovados para venda pelo Instituto Nacional de Viticultura de Argentina. “Essa embalagem inovadora garante as características do vinho, mantendo os padrões de qualidade”, assegura Rubén Ruffo, enólogo da Bodega Santa Julia.
“Todos [os vinhos em lata] são jovens, sem passar por madeira, fáceis de beber”, explicou Juan Ignacio Guzmán, gerente de marketing da Santa Julia, ao acrescentar que as latas custarão entre US$ 4 e US$ 5 ao público final nos Estados Unidos. Ele conta que a vinícola envia o vinho a granel, para ser enlatado no destino.
“Tivemos muito impacto e repercussão com o anúncio, o que denota que há interesse em beber vinho enlatado, especialmente entre os jovens, que são menos tradicionais para beber vinho e não têm tantos preconceitos. Portanto, vamos mover-nos mais rápido do que o esperado”, explicou Guzmán.
E as mudanças vêm em boa hora para os vitivinicultores, visto que no ano passado o setor passou pela sua pior temporada de todos os tempos na Argentina. Foi registado um consumo de quase 19 litros ‘per capita’, o que representou uma queda de 15,8% em comparação com os 25,6 litros que foram bebidos em 2013. A baixa é ainda mais impressionante se comparada com o que era consumido na década de 1970, quando se bebia 92 litros de vinho por pessoa na Argentina.
Para os especialistas em marketing, este lançamento é uma clara tentativa de reação à maior concorrente do vinho – a cerveja. Prova disso é que, nos últimos anos, a venda de cerveja só cresceu, de mãos dadas com novas propostas em latas de diferentes tamanhos e preços, variedades e sabores. A bebida de cereais fermentados mais consumida do mundo deve muito de sua popularidade ao facto de poder ser consumida de forma individual, em preços mais acessíveis, em movimento e em doses menores.
Não é a primeira vez que a vinícola Familia Zuccardi busca se diferenciar pela inovação. Em 2003, foi pioneira no lançamento de vinho branco de alta qualidade com tampa de rosca (sistema Stelvin). À época o lançamento surpreendeu os consumidores argentinos mais conservadores, habituados à rolha tradicional, mas que acabaram a adotar esse hábito nos vinhos brancos e, principalmente, jovens.
Criada em 1996, a cava Santa Julia também tem uma linha chamada “inovação”, que inclui castas não-tradicionais da Argentina. Entre elas estão a Carmenere (Chile), Ekigaina, Arinarnoa e Marselan (Bordeaux, França), Fiano (sul da Itália) e Verdelho (Portugal).
Adam Sager, vice-presidente da Winesellers – que vai representar a Santa Julia nos Estados Unidos, afirma que o consumidor de vinho atual é “aventureiro” e procura o próximo “achado ou tendência”. “Temos visto um aumento enorme na procura por vinhos de qualidade e acessíveis para o consumidor diário”, conclui.