O projeto ECO-PIG, desenvolvido em consórcio pelos parceiros D.I.N. – Desenvolvimento e Inovação Nutricional S.A., Instituto Politécnico de Coimbra [através da sua Escola Superior Agrária (ESAC)], Universidade de Évora e Rações Santiago, Lda., encerrou no passado mês de julho, tendo os seus resultados sido divulgados numa sessão on-line realizada no dia 29 de setembro.
No contexto deste projeto de investigação, foi feita uma seleção de subprodutos a incluir numa mistura experimental, cuja composição e formulação foi estudada, tanto do ponto de vista nutricional, como do seu impacto ambiental. Como conclusão genérica, pode dizer-se que a nova mistura demonstrou elevado potencial para ser comercializada ao ser mais favorável para o acabamento dos suínos Alentejano e Bísaro, raças autóctones alvo do estudo, e mais sustentável, o que se pode traduzir num alavancar da economia circular.
A investigação surgiu na sequência de se ter verificado que, atualmente, a aquisição de subprodutos e concentrados (proteicos e energéticos) em mercados de proximidade a custo reduzido (ou competitivo) é limitada e, portanto, que existe a necessidade da Indústria de Alimentos Compostos para Animais (IACA) encontrar alternativas para oferecer ao mercado produtos mais sustentáveis. Com o intuito de contrariar esta tendência, no alimento composto experimental do ECO-PIG, a equipa privilegiou o uso de subprodutos, como as radículas de malte a polpa de beterraba, ou proteaginosas, tais como a ervilha e o tremoço, opção pouco frequente para a referida indústria.
O ensaio experimental com suínos da raça Bísara ficou a cargo da ESAC, tendo o estudo permitido concluir que os animais castrados revelaram um grande potencial para a ingestão e a engorda. Estes animais mantiveram-se calmos e sem incidentes de agressividade significativos, tendo sido, porém, mais sensíveis aos picos de calor verificados em 2022. Por seu lado, os Bísaros intactos (não castrados) no grupo experimental revelaram um bom apetite para a nova mistura, com índices de conversão melhores do que o restante grupo, contudo com elevados índices de agressividade. Os intactos que consumiram a ração controle tiveram um comportamento muito agressivo e o seu desempenho foi afetado por isso, desde logo pela baixa ingestão de alimento. Em resumo, os dados demonstraram que em termos zootécnicos e de bem-estar animal a ração experimental superou a ração comercial, confirmando a viabilidade de usar uma ração de engorda com inclusão de leguminosas localmente produzidas, bem como de subprodutos e resíduos agroindustriais, sem efeitos negativos na engorda dos porcos autóctones.
A análise das peças de carne (lombo e lombinho) demonstrou que os porcos inteiros produziram carne mais magra, sem comprometer a qualidade, e com um perfil de ácidos gordos mais saudável para os consumidores que os porcos castrados, o que associado a uma maior produção de peças nobres e um menor consumo de ração por kg de carne produzida, é vantajoso para o produtor. Por fim, os teores em androstenona e escatol – compostos responsáveis pelo odor e sabor a macho na carne e gordura dos animais inteiros –, foram quantificados (na gordura do cachaço), sendo os níveis obtidos considerados como não detetáveis pelo consumidor, segundo a bibliografia na matéria.
Englobando os resultados decorrentes do ensaio experimental com suínos da raça Alentejana desenvolvido na Universidade de Évora, que foram reforçados, em vários parâmetros, pelas conclusões do ensaio realizado na ESAC, o projeto ECO-PIG permitiu, entre outros, obter dados pioneiros sobre androstenona, escatol, microbiota intestinal e análise transcriptómica em porcos Alentejanos e Bísaros em fase de engorda, contribuindo significativamente para o conhecimento destas duas raças, que, apesar de serem pilares económicos nas suas regiões de criação, enfrentam risco de extinção.
Como inicialmente previsto, foi desenvolvida uma proposta de rotulagem segundo a norma para a comercialização de alimentos na União Europeia e em Portugal. Foi também concretizada a ficha técnica para a nova mistura alimentar, de modo a facilitar a sua futura comercialização. Do projeto ECO-PIG surgiram ainda diversos documentos de divulgação dos resultados, nomeadamente a publicação de quatro artigos em revistas científicas e a participação em congressos (posters/comunicações orais), de que são exemplo: o XXII ZOOTEC – Congresso Nacional de Zootecnia, edição online, Portugal; o “73rd Annual Meeting of EAAP”, Porto; o “XI International Symposium on the Mediterranean Pig – SYMPMED2022”, Vodice, Croácia; o “IV Congresso das Escolas Superiores Agrárias”, Santarém; e o “VII Encontro de Estudantes de Doutoramento em Ambiente e Agricultura”.
Artigo publicado originalmente em ESAC.