Relatório da ANP-WWF alerta para o aumento da escassez de água na Península Ibérica, nas próximas décadas, influenciada pelas alterações climáticas, e defende que, sem uma melhor gestão partilhada deste recurso pelos dois países, não se consegue melhorar este cenário
As projecções mais ou menos pessimistas para a disponibilidade de água na Península Ibérica nas próximas décadas, influenciada pelas alterações climáticas, não deixam muita margem para dúvidas à ANP/WWF: “O futuro é sombrio”, escreve-se, no relatório Impacto das Alterações Climáticas na Península Ibérica – Menos chuva e mais incerteza para os rios ibéricos, divulgado esta segunda-feira, Dia Mundial da Água. Mas há caminhos a percorrer para tornar os impactos previstos menos duros, a começar por uma gestão transfronteiriça mais eficiente e passando por um uso muito mais racional deste recurso.
Os avisos sobre a forma como a Península Ibérica será afectada pelas alterações climáticas têm-se repetido e não variam muito. Embora não seja fácil estabelecer projecções para os padrões de chuva, o facto é que tem havido “uma tendência de redução […], sobretudo no Sul”, refere-se no relatório, e quanto ao resto parece não haver dúvidas: esperam-nos secas e ondas de calor mais prolongadas e frequentes, e um aumento generalizado da temperatura. Tudo isto levará a uma “redução da disponibilidade de água”, ainda mais acentuada do que aquela que já vimos sentindo, seja ou não por influência das alterações climáticas. Mudar em alguns aspectos é essencial.
“A questão de fundo é uma mudança de paradigma que tem que ver com a gestão do risco. Estamos a utilizar os recursos quase no limite e sempre que chove um bocadinho menos – e não precisa de ser por causa das alterações climáticas, porque sempre tivemos períodos de seca -, temos um problema. É preciso perceber que para gerir determinada água, só podemos usar 50% dela, porque se estivermos sempre a usar 90% estaremos sempre com um problema”, diz Afonso do Ó, co-autor do relatório e responsável pela área da Água na ANP/WWF.
E, sim, fechar a torneira enquanto se lava os dentes é um bom princípio e