É o setor mais impactado pelas alterações climáticas, com a crescente falta de água a afetar o território de norte a sul do país, mas a queda frequente de granizo é igualmente um desafio em algumas regiões. Tecnologia e inovação estão a ajudar a combater o stresse hídrico e a permitir um tratamento quase personalizado de cada planta. Em Alijó está a ser criado um sistema que transforma o granizo em água.
As quedas de granizo que afetaram, sobretudo, a região do Alto Douro vinhateiro são a imagem das alterações climáticas que Portugal já sente. A tendência, dizem os especialistas, é para que estes fenómenos sejam cada vez mais frequentes e intensos, tornando-se uma ameaça de enormes dimensões para a agricultura. No outro extremo, a seca em que grande parte do país já se encontra também faz os seus estragos, provocando o stresse hídrico, o enfraquecimento das plantas e reduzindo a sua capacidade de produção. Seja qual for o fenómeno, o resultado traduz-se em prejuízos elevados para os agricultores, o elo mais fraco de uma cadeia que depende dos caprichos climáticos e, como diz Rui Soares, em jeito de brincadeira, das orações a Santa Bárbara.
No caso específico do granizo na região do Alto Douro, o presidente da Direção da ProDouro – Associação dos Viticultores Profissionais do Douro, explica ao DN que os fenómenos são mais recorrentes, aparecem com mais intensidade, e em alturas em que causam graves prejuízos, como na primavera. “É uma fase em que a fruta está em formação e, quando cai granizo, prejudica não só a quantidade, mas também a qualidade da fruta”.
Este ano os concelhos de Alijó e Sabrosa foram dos mais afetados, numa área que equivale a cerca de 15 mil hectares de vinha e olival. “Alijó tem uma propensão especial para este tipo de fenómenos extremos como a trovoada e a queda de granizo intensa”, reforça José Paredes. O presidente da Câmara Municipal de Alijó recorda que “foi assim em 2012, em 2018, sobretudo, em que a queda de granizo foi de facto muito severa e fustigou muito as nossas culturas, e está a ser assim este ano”. O autarca estima que, só este ano, já tenham sido afetados cerca de 1600 hectares dos quais, muito próximo dos 700, severamente afetados, com a produção irremediavelmente perdida. Um problema que, afinal, tem uma solução à distância de 1,3 milhões de euros, e para a qual o autarca tem procurado o apoio da tutela da agricultura, até ao momento sem efeito prático.
Transformar o granizo em água
Evitar os prejuízos avultados na vinha e nos olivais nos concelhos de Alijó e de Sabrosa é a missão do sistema, desenvolvido em parceria com a Universidade de Trás-os-Montes (UTAD), que transforma o granizo em água. Inspirado numa solução que existe em França desde os anos 50 do século XX, o sistema ajustado às características climáticas e do terreno naqueles dois concelhos está pronto a entrar em fase piloto.
Por iniciativa da ProDouro, os técnicos nacionais visitaram as várias zonas francesas onde é utilizada solução semelhante, e trabalharam em conjunto com os especialistas daquele país para confirmar se o sistema seria viável em território nacional. “Este é um trabalho de parceria que dura há cinco anos, que partiu da associação e que, posteriormente, envolveu o sistema científico nacional, através da UTAD, e as autarquias da região”, explica Rui Soares.
Do lado da edilidade, José Paredes confirma que “faz todo o sentido dizer que Alijó pensa seriamente no sistema de combate e prevenção contra a queda de granizo”. […]