A llha Graciosa situa-se no grupo Central do Arquipélago dos Açores e caracteriza-se por possuir um relevo bastante plano. Sendo uma ilha essencialmente agrícola a cultura do alho há muito ali está enraizada mas numa lógica de produção mais interna. Agora as diferentes entidades responsáveis uniram-se em prol da valorização e promoção desta cultura que ganhou uma nova projeção.
Incentivar a produção de alho na Ilha Graciosa, bem como contribuir para a promoção da sua utilização e venda foram alguns dos objetivos traçados para o 1.º Festival do Alho da Ilha Graciosa. A iniciativa começou com o Festival de Gastronomia, que arrancou a 25 de janeiro e se prolongou até 3 de fevereiro e no âmbito do qual a restauração da Ilha preparou menus especiais com o ingrediente alho em destaque. De 1 a 3 de fevereiro aconteceu o Festival do Alho propriamente dito, durante o qual a recém inaugurada Adega e Cooperativa Agrícola da Ilha Graciosa recebeu a “Escola do Alho”, um momento em que os alunos do 1.º Ciclo das Escolas da Graciosa adquiriram algumas noções sobre a cultura. À tarde, após o fórum de produtores deu-se a abertura oficial da iniciativa, acompanhada pela Reportagem da Voz do Campo que viajou para os Açores a convite da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo.
Nesta sessão oficial estiveram presentes algumas das entidades organizadoras do evento, nomeadamente a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo – Associação Empresarial das Ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa – juntamente com o Núcleo Empresarial da Ilha da Graciosa à qual se associou como entidade parceira a vice-presidência do Governo Regional, através da SDEA (Sociedade para o Desenvolvimento Empresarial dos Açores). Marcou também presença o presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, Manuel Avelar, o presidente da Adega e Cooperativa Agrícola da Ilha Graciosa, João Picanço e o Diretor Regional da Agricultura, José Élio Ventura.
Para todas as entidades é consensual que foi um importante ponto de partida para a valorização desta cultura tradicional da Ilha Graciosa, tal como como referiu Marisa Toste, da SDEA, esclarecendo que o alho é um dos muitos produtos que também beneficiam da certificação “Marca Açores” (uma marca coletiva do Arquipélago). “A partir daqui resta fazer um trabalho de avaliação da produção e aceder aos mercados. Estou convicta de que o caminho está aberto”.
Também o presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, Manuel Avelar, espera que o alho venha a ter um peso maior na agricultura da Ilha que aliás tem a sua atividade principal centrada no setor primário, seguido pelas pescas e por fim o terciário. Desde a primeira hora a autarquia incentivou e disponibilizou todos os meios para a boa organização do evento e com a preocupação de haver foco no escoamento do produto, “porque essa é a preocupação dos produtores”.
Olhando para o passado recorda que o alho teve uma importância relativamente grande, quando várias famílias se dedicavam à sua produção e comercialização, em grande parte para as outras ilhas já que a Graciosa representa um mercado pequeno. Mas, para o autarca, nesta e noutras culturas similares de pequena dimensão, seria importante prolongar as produções um pouco mais no tempo uma vez que a sazonalidade os limita. Certo de que nunca existirão produções massivas, até porque a dimensão da Ilha não o permite, não deixa de ser um importante complemento para os produtores que normalmente também fazem outras produções.
“Já podemos começar a pensar numa segunda edição do Festival. Pode não ser em 2020 até para se analisarem com calma os efeitos e resultados do que aconteceu agora”
Organizar e realizar o 1. Festival do Alho foi em primeiro lugar uma resposta ao desafio lançado pelo Núcleo Empresarial da Graciosa da Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, avança-nos o seu presidente, Rodrigo Rodrigues, bastante satisfeito por ter sido possível colocar a ideia em prática e atingindo os objetivos traçados.
Consciente de que não seria possível dar resposta a todas as situações numa só iniciativa, também é da opinião que pode ter sido um bom “pontapé de saída” para que todos os agentes económicos da Graciosa, e da região, juntos possam encontrar uma forma de aumentar a produtividade da cultura.
“É com base na sua qualidade e características diferenciadoras que será possível aumentar a produção, embora seguros de que será sempre impossível produzir em massa para competir com a produção que existe nas grandes indústrias”. Há que saber colocar o alho em nichos onde possa ser valorizado pelas suas características, conferindo assim valor acrescentado ao produto.
O alho da Graciosa conta com 10 a 16 dentes, de cor vermelho arroxeado ou rosa avermelhado, tendo um cheiro intenso mesmo sem ser esmagado. Tem propriedades gustativas e olfativas sui generis muito agradáveis e intensas.
Trata-se de um produto agrícola de qualidade, que representa um património cultural e gastronómico na ilha e na região Açores, com características específicas associadas à origem geográfica.
Para ler na íntegra na Voz do Campo n.º 224 (março 2019)