Portugal tem já uma área enorme de eucaliptos e não precisa de novas plantações. Mas uma coisa é gerir e ordenar o território, outra é criar um anátema contra uma espécie que está na base de uma das mais relevantes indústrias do país.
Não bastava uma muito discutível atitude do Presidente da República, que esta semana se juntou à cruzada contra os eucaliptos e participou numa campanha de arranque de rebentos dos últimos incêndios. Agora, a cruzada tem a cobertura dos representantes da nação. Por proposta do Bloco de Esquerda, a Assembleia da República recomenda ao Governo um plano para cortar pela raiz esse gravíssimo problema das árvores que teimam em rebentar após a destruição do fogo. Espera-se o pior. Por exemplo uma lei que force os proprietários a travar a regeneração natural (é disso que se trata). Com multas e polícias da natureza para as aplicar.
O que está na origem de tanto fervor não é o reconhecimento de um grave problema da floresta nem a determinação de meios para acabar de vez com o excesso de monoculturas e promover o ordenamento que tanto falta. O que está em causa é uma nova ideologia vegetal. A origem é conhecida – o excesso de eucaliptos, a hegemonia da espécie em zonas inadequadas e, principalmente, o drama de plantações contínuas sem qualquer tipo de gestão. E a consequência está à vista como a expansão de uma crença perigosa: a de que Portugal resolverá o seu pesadelo florestal combatendo o eucalipto.
Nessa profissão de fé entram, como é óbvio, muitas intuições e pouca razão, alguma emoção e nenhuma ciência. O Bloco, o PCP e o PS querem que os produtores arranquem as únicas árvores que lhes dão algum dinheiro porque acreditam na vitória do ecologismo radical nascido da necessidade de os portugueses explicarem a devastação dos fogos do ano passado. Com os silvicultores, os académicos e a indústria cobardemente calados perante a gritaria condenatória, a nova religião alastrou, contagiou o Presidente e chega agora ao Parlamento.
Portugal tem já uma área enorme de eucaliptos e não precisa de novas plantações. Mas uma coisa é gerir e ordenar o território, outra é criar um anátema contra uma espécie que está na base de uma das mais relevantes indústrias do país e é a única que, em alguns ecossistemas, gera resultados para as populações rurais. Arrancar rebentos de eucalipto quando há tanto a fazer na floresta é por isso um disparate que revela o poder do Bloco sobre a agenda política e põe a nu o espaço que a demagogia já ocupa nos debates sobre o país.
Manuel Carvalho
20 de outubro de 2018