No passado dia 21 de Setembro, treze investigadores publicaram um artigo na prestigiada revista Nature (Vol. 621) em que referem que a própria revista tem divulgado estudos descrevendo que a modificação de um ou mais genes pode favorecer aumentos substanciais na produção das culturas do arroz, do milho, do tabaco e da soja; mas, porém, os referidos cientistas põem em causa a credibilidade desses resultados, principalmente porque foram obtidos sem que tenham sido adotados delineamentos experimentais credíveis, designadamente incluindo ensaios de campo.
Ora, em qualquer caso, importa sublinhar que nem sempre a produtividade é o atributo mais apreciado nas plantas geneticamente modificadas (GM).
Por exemplo, quando em Portugal a minha companhia cultiva 1200 ha de milho geneticamente modificado MON 810, resistente à praga da broca, a grande vantagem reside no facto de não ter de se utilizar inseticidas contra a broca, e, deste modo, contribui-se para a tão desejada biodiversidade; adicionalmente, como não se aplica qualquer inseticida, também não se torna necessário interromper a rega, o que iria contribuir para diminuir um pouco a produtividade da cultura. Note-se que o milho é a segunda cultura GM com maior expansão no mundo: 66,2 milhões de ha.
Ainda a propósito da cultura do milho, refira-se que recentemente a empresa Pivot Bio lançou no mercado uma bactéria GM capaz de transformar o azoto da atmosfera num nutriente suscetível de ser absorvido pelo milho. Deste modo minimiza-se a aplicação dos adubos azotados inorgânicos e, consequentemente, diminuem-se os efeitos negativos que estes apresentam para o ambiente (energia despendida na síntese do amoníaco, eventual lixiviação de nitratos e evaporação de óxido nitroso).
No caso da soja (RR) geneticamente modificada para resistir ao herbicida glifosato, a aplicação deste potente pesticida de pós-emergência, que é capaz de controlar efetivamente quase todas as plantas invasoras mais agressivas, pode até diminuir a produtividade da soja, se não for aplicado num estágio fenológico adequado.
No que respeita ao arroz e à importância dos benefícios proporcionados pela moderna biotecnologia, refira-se o arroz dourado, modificado geneticamente para a síntese de B-caroteno – precursor da síntese da vitamina A no corpo humano.
O referido arroz dourado assume especial importância para as populações desfavorecidas, cuja dieta é constituída à base de arroz comum, o qual apresenta uma disponibilidade de vitamina A muito baixa, se bem que essencial para a visão. A Organização Mundial de Saúde estima que mais de 100 mil crianças menores de cinco anos morrem todos os anos por falta de vitamina A.
À semelhança das críticas dirigidas a outros alimentos GM, designadamente pela Greenpeace, também o consumo de arroz dourado não foi poupado e, só em 2018 foi considerado seguro para consumo humano por quatro países, nomeadamente EUA e Canadá. A respetiva produção foi autorizada pela primeira vez pelas Filipinas em finais de 2019. Estima-se que o consumo de arroz dourado venha a expandir-se brevemente por outros países, designadamente no Bangladesh, que é o quarto maior produtor de arroz do mundo.
Em conclusão, nos três exemplos que apontámos, a moderna biotecnologia permite: (i) não utilizar inseticidas (caso do milho MON 810), não prejudicando portanto a biodiversidade; (ii) aplicar um só herbicida na cultura da soja (RR); (iii) produzir arroz rico em beta-caroteno e assim salvar a vida de milhares de crianças.
Engenheiro Agrónomo, Ph. D.
Do Prado ao Prato na perspetiva de um fruticultor português – Manuel Chaveiro Soares