A dimensão dos estragos nas árvores de pereira Rocha pela acção da doença do Fogo Bacteriano foi estimada com a análise de dados dos últimos 20 anos e com a produção de pera em 2025. Esta análise sugere haver uma destruição permanente em 31% da produção nacional face aos anos normais de boa produção. Esta estimativa foi possível com recurso ao Observatório que a APAS (Associação dos Produtores Agrícolas de Sobrena) usa para a monitorização de outra doença, a Estenfiliose que destrói frutos.
O referido Observatório baseado nos registos factuais dos dados climáticos, na produção nacional e na intensidade de estragos de Estenfiliose registados nos frutos em anos anteriores, tem permitido prever a influência do clima na susceptibilidade da pereira Rocha a esta doença no início de cada ano de produção. Este indicador é de extrema importância para o fruticultor porque tem cerca de 70% de peso na maior ou menor propensão de um pomar contrair esta doença a partir do início de cada ano de produção (in: https://apas.com.pt/ficha.aspx?idn=1046).
Em maio de cada ano é finalizado o prognóstico de susceptibilidade da pereira Rocha à doença da Estenfiliose baseado no Observatório referido. Deste modo, foi previsto para 2025, a nível regional, uma reduzida a vestigial incidência desta doença nos frutos, o que veio a confirmar-se. A nível local, no pomar, as poucas e excepções foram nos pomares em solos “marginais” e com práticas culturais já conhecidas como incorrectas.
Com as condições edafoclimáticas registadas até maio, o Observatório permitiu inferir a previsão para 2025, numa produção nacional de pera Rocha a rondar as 219.300 toneladas. Contudo, alguns factores poderiam afectar esta previsão, nomeadamente, os relacionados com os eventos climáticos. Estes factores podem ser os que destroem directamente os frutos (granizo, vento ou escaldão solar) – não ocorreram -, as dificuldades no vingamento (evolução da flor em jovem fruto) e as dificuldades no ritmo do crescimento diário dos frutos derivado a temperaturas altas – ocorreu entre finais de julho e a primeira quinzena de agosto. O impacto destas dificuldades foi estimado em 25% na quebra de produção no ano.
No cômputo geral foi registada a colheita nacional aproximadamente de 130.000 toneladas (ANP1, 2025 – 115.990 toneladas representando cerca de 89% dos produtores nacionais).
Deste modo, em 2025, a comparação entre a produção estimada e a registada sugere ter havido uma quebra da produção nacional na ordem das 89.300 toneladas (-41%) de pera Rocha. Nesta perda, são então atribuíveis 10pp2 (25% sobre 41% de quebra geral) aos problemas já referidos no vingamento e no crescimento de frutos, sobrando o remanescente ao impacto destrutivo do Fogo Bacteriano (31pp | 67.000 toneladas).
Para agravar o cenário, este ano de 2025 foi registado um aumento na dispersão e na severidade do ataque desta doença destrutiva da árvore. Este agravamento foi atribuído às condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento desta doença durante o período da floração em abril com chuvas persistentes e temperaturas amenas e favoráveis.
O ataque do Fogo Bacteriano nos pomares de pereira Rocha tem vindo a aumentar ano após ano, com maior aceleração desde 2021. Como esta doença mata ramos ou toda a árvore, o seu impacto é acumulativo dando origem a pomares mutilados levando à sistemática redução dos órgãos produtivos.
Deste modo, é previsto para 2026 mais um acréscimo de redução no potencial produtivo, em mais de 60% nos atuais pomares de pereira Rocha.

Árvore atacada pelo Fogo Bacteriano e o amontoado de árvores arrancadas para queima.

Atualmente, não há soluções de protecção fiáveis ou eficazes contra esta doença. A solução mais promissora está relacionada com o melhoramento genético mas está com um atraso cerca de 10 anos.
Sem a renovação com novas plantações e/ou a paragem de novos ataques, a produção nacional de pera Rocha, que se inferiu estar permanentemente reduzida em 31%, continuará com a tendência de redução e já para o próximo ano de 2026, derivado aos estragos verificados em 2025.
1 ANP – Associação Nacional dos Produtos de Pera Rocha.
2 pp – pontos percentuais.
João Azevedo
Coordenador do Departamento Técnico da APAS










































