Quando hoje se pagam as uvas a um preço inferior ao que se praticava há 20 anos e neste período de tempo os custos de produção mais do que duplicaram, é o quê, se não uma subsidiação ao comprador?
1.
A nascença era boa, o tempo até estava a ajudar, chovera bem no Inverno e no início da Primavera, o mês de Maio foi menos frio do que costuma ser, não havia grande pressão de míldio e oídio, é verdade que cresceu muita erva, mas não se pode ter tudo, e depois, em dez minutos, uma torrente de bolas de granizo desfez todos os sonhos e esforços. “A vindima já está feita. E para o ano nem varas vamos ter”, queixava-se uma viticultora da zona de Vila Real ouvida pela RTP, triste mas aparentemente serena, porque até na desgraça há que ser digno. “Nunca na minha vida vi uma coisa assim. Nem vale a pena falar”, lamentava-se outra mulher, com a mesma tristeza e a mesma dignidade.
Gente desolada sem lágrimas, aturdida com a brutalidade da intempérie sem, no entanto, reclamar dos céus, porque quem vive da terra sabe que vive todo o ano exposto ao seu arbítrio. E é nesta fragilidade, nesta incerteza permanente, que reside grande parte da beleza da vida no campo. Criar nestas condições, mesmo que seja por pura sobrevivência, esconde uma teimosia e uma heroicidade emocionantes. Uma colheita salva nunca é uma rotina, é sempre um grande feito. Por isso é que chocam os preços do campo. O preço do trabalho e o preço dos produtos. É tudo mal pago. Pagar as uvas ao custo de produção ou até menos, como acontece no Douro com as uvas para DOC Douro, não é uma inevitabilidade do mercado. É sempre uma opção do comprador, que se posiciona no mercado a partir do baixo preço que
Pedro Garcias
Jornalista e produtor de vinho no Douro