O espargo em boas condições de produção pode atingir em solos de mediana fertilidade, uma produção em ano cruzeiro de 6.000Kg/ha.
1. Produtividade, rendimento bruto e investimento na cultura
Em solo de baixa fertilidade, como são a maior parte dos arenosos, esta produtividade só será possível com uma boa correção do solo e adubação da cultura (adubação verde, corretivos e adubos comerciais), a iniciar pelo menos um ano antes da plantação. Esta preparação atempada é também importante para limpar o terreno das ervas infestantes de mais difícil controlo sem herbicidas.
Com plantação de “garras” de viveiro, a primeira colheita faz-se no ano a seguir à plantação, sem exagerar para que a planta possa desenvolver o seu forte sistema radicular, acumulando reservas nas raízes grossas.
A curva de produção, o preço e o rendimento bruto previstos, considerando uma vida económica útil de 10 anos, são os indicados nos quadros 1 e 2.
As produções indicadas no quadro 1 não estão ainda comprovadas em Portugal até ao fim da vida útil, pois as primeiras plantações em agricultura biológica são recentes. Para já podemos adiantar que é possível atingir os 1000 Kg/ha na primeira colheita quando o solo tem boas características para a cultura e quando a adubação é a adequada (fig. 1 e 2).
O preço indicado é para espargo verde no produtor a granel, sem armazenamento nem transporte. O valor de 3,50 euros é o valor estimado na exploração agrícola depois de descontados os custos de transporte e armazenamento em frio. A produção mais precoce (Fevereiro e parte de Março) pode ter um preço superior atendendo a que a produção espanhola da Estremadura e a da Europa Central é mais tardia (Março-Abril). No mercado nacional biológico o espargo tem sido pago ao produtor a um preço substancialmente mais alto. A Cooperativa Agrícola de Felgueiras está a comprar espargo verde (bio e convencional) com preços (em Felgueiras) superiores ao do quadro 2.
Os valores do rendimento bruto são altos para uma cultura agrícola. No entanto é uma cultura de forte investimento, que exige alguma manutenção e em que a colheita é manual obrigando a muita mão-de-obra.
O custo aproximado da plantação é igual ou inferior a 7.000 euros/ha, mas sem rega. O custo de instalação mais alto é com as plantas que, para uma densidade de 16.670/ha, pode ultrapassar o valor de 4.000 euros, embora esse custo possa baixar com plantas da classe standard (em vez da classe A), e com viveiros que tenham melhores preços embora com gamas de variedades mais limitadas.
No âmbito do PDR2020 o investimento da plantação do espargo pode ser objeto de candidatura, sendo esta uma das poucas culturas hortícolas em que as plantas são despesa de investimento elegível, já que é classificada como cultura permanente. Nos projetos de investimento deve incluir-se algum equipamento mais necessário em agricultura biológica, como seja, distribuidores de estrume com saída lateral, sachadores mecânicos, mondadores térmicos. Depois dum adequado planeamento técnico, passa-se a um cuidadoso estudo de viabilidade económica, antes de avançar com o investimento, independentemente do recurso aos subsídios da PAC.
2. Exigências em solo e fertilização
O espargo, apesar de ser uma planta rústica e adaptada a solos de média fertilidade, desde que profundos, tem algumas exigências e necessidades nutritivas que justificam uma adequada fertilização (do solo e da cultura). As condições de solo mais favoráveis são as seguintes:
– pH pouco ácido a neutro (6,5-7,5); textura franca a franco-arenosa; matéria orgânica média (2-3%).
Quanto às necessidades em nutrientes, os valores variam com os estudos considerados, como se indica no quadro 3. Esses valores também variam com as produções obtidas.
Devem ser feitas análises de terra antes da instalação da cultura, de preferência até ao mês de Setembro, de modo a semear leguminosas fixadoras de azoto para adubação verde antes da plantação do espargo. A prática da adubação verde (cover crops) prioritária em agricultura biológica. As espécies a semear devem ser escolhidas em função das características do solo de modo a melhorar o crescimento e a máxima eficiência na fixação biológica de azoto, ultrapassando se possível os 100 Kg/ha de azoto fixado.
Na melhoria do solo previamente à plantação convém ter especial atenção às ervas infestantes vivazes que devem ser eliminadas com mobilizações sucessivas durante o Verão (grama, escalracho), ou com solarização do solo (junça). A aplicação de herbicidas é proibida em agricultura biológica.
Quanto à fertilidade do solo o problema mais frequente nos solos portugueses (Portugal continental) é a falta de matéria orgânica, o que limita a disponibilidade de azoto. São necessários corretivos orgânicos e a prática da adubação verde no Outono/Inverno antes da plantação.
O adubo orgânico, deve ser aplicado só em complemento da adubação verde.
O pH em água quando for ácido, para se aproximar do ótimo para o espargo (6,5 a 7,5) precisa de correção com calcário calcítico, ou magnesiano, ou de origem marinha, para corrigir a acidez.
Para os restantes nutrientes adubar sempre em complemento daquilo que o solo e os corretivos possam fornecer.
Com uma boa fertilização de fundo e com a adubação verde anterior, a cultura desenvolve-se melhor nos dois primeiros anos, e irá produzir mais com menos custos, pois as adubações complementares por fertirrega são mais caras.
3. Trabalhos a realizar para a plantação – aplicação dos fertilizantes e preparação do terreno
Os principais trabalhos a fazer são os seguintes:
-Subsolagem, com subsolador de 3 dentes, a 40-50cm de profundidade, ou ripagem a 80-90cm;
-Escarificação com escarificador ou com um chisel, no Verão para secar as ervas rizomatozas (grama, escalracho);
-Distribuição dos fertilizantes orgânicos e minerais (referidos na recomendação de fertilização) em todo o terreno, com ou sem o adubo orgânico;
-Gradagem com grade de discos para enterramento dos fertilizantes;
-Armação de camalhões (fig. 3);
-Abertura de regos com 15 a 20cm de profundidade e 30cm de largura, para a plantação das garras.
A partir daqui é o trabalho de plantação:
– Colocar as garras, à distância mínima de 30 cm entre elas. Menor distância prejudica a qualidade (fig. 4);
– Colocar o adubo orgânico no caso de não ter sido já aplicado em todo o terreno;
– Tapar o rego cobrindo as plantas;
– Instalar a rega.
4. Certificação e comercialização em agricultura biológica
O produtor tem de seguir as regras de produção europeias (Regulamento CE 834/2007 e Reg. UE 848/2018) e contratar um organismo de certificação reconhecido.
Após o controlo e a emissão do certificado, o produto pode ser embalado e na rotulagem deve constar o símbolo comunitário para os produtos de agricultura biológica produzidos e/ou embalados na União Europeia (fig. 6).
Autoria: Jorge Ferreira*
jferreira@agrosanus.pt
(*) Engº Agrónomo / Consultor agrícola
- Artigo publicado na edição impressa de junho/2019.