Milhares de agricultores europeus manifestaram-se hoje, em Bruxelas, contra o acordo com o Mercosul e a proposta de Política Agrícola Comum pós 2027, que a CAP defendeu ser especialmente penalizadora para Portugal, pedindo uma posição firme do Governo.
Segundo dados da polícia, cerca de 7.300 pessoas participaram na manifestação que percorreu a capital belga e 950 tratores bloquearam várias ruas do Bairro Europeu.
A polícia respondeu com canhões de água e gás lacrimogéneo contra alguns manifestantes que arremessaram projéteis e batatas.
“A manifestação foi um enorme sucesso pela dimensão que alcançou. Foi uma das maiores manifestações de agricultores em Bruxelas”, assinalou o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Álvaro Mendonça e Moura, em declarações à Lusa.
Para a CAP, que se associou ao protesto, o que está em causa é, sobretudo, o desmantelamento da Política Agrícola Comum (PAC), uma vez que proposta da Comissão Europeia prevê um corte de quase 20% no orçamento.
Bruxelas propõe ainda o fim do sistema de pilares, propondo que grande parte seja financiada pelo mesmo fundo que abrange, por exemplo, a coesão e as migrações.
Aos Estados-membros é dada a possibilidade de completarem o orçamento com os seus excedentes nacionais, decisão que tem vindo a ser criticada por várias organizações de produtores.
“Isto colocaria todos os países em condições diferentes. Os mais ricos teriam mais facilidade em apoiar os agricultores […]. O que está em causa é o fim de uma política agrícola que esteve na base da própria União Europeia”, precisou Mendonça e Moura.
De acordo com a CAP, a manter-se esta proposta, Portugal sairá particularmente lesado, uma vez que o primeiro pilar (pagamentos diretos) da PAC “é mais fraco” em comparação com outros países.
Por outro lado, Portugal beneficia dos fundos da política agrícola e da coesão, ficando penalizado com a sua junção.
A isto soma-se o facto de o país não ter condições para competir com, por exemplo, Espanha ou França no que se refere à verba nacional que pode dedicar para cobrir o corte em causa.
Contudo, o presidente da CAP avisou que a manifestação de hoje não é só contra a proposta da Comissão Europeia, mas serve de alerta para os primeiros-ministros e membros do parlamento, tendo em conta que a decisão final cabe ao Conselho e ao Parlamento Europeu.
O antigo embaixador exigiu ainda que o Governo de Portugal tome uma “posição muito clara” no sentido de a atual proposta ser alterada.
“Isto tem de ser dito agora e não no final da negociação”, insistiu.
O acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que pretende facilitar o comércio entre os dois blocos, em negociação há duas décadas, foi outro dos motivos que levaram os agricultores a sair hoje à rua.
Porém, não existe unanimidade entre as organizações agrícolas europeias no que diz respeito a esta matéria.
“A União Europeia não é uma ilha e tem de ter aliados. Não podemos perder a oportunidade de aprofundar relações com um mercado de 180 milhões de habitantes. É um mercado muito interessante para nós e devemos reforçar a relação com o Mercosul”, afirmou.
Também na manifestação, Florence Pellissier, agricultora de 47 anos, disse que, através deste acordo, vão ser importados produtos nos quais foram utilizadas substâncias que são proibidas na Europa.
Por sua vez, o produtor de leite Maxime Mabille, citado pela Agência France Presse (AFP), referiu que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “quer impor a sua vontade”.
Já pela Associação dos Jovens Agricultores do Norte de França, o dirigente Antoine Delefortrie sublinhou que as pessoas “estão fartas de regulamentos e restrições” e denunciou também o risco de concorrência desleal.














































