A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou hoje que a base agrícola da Faixa de Gaza “foi destruída” após dois anos de guerra, com 87% das terras de cultivo danificadas.
“Os resultados mostram a destruição generalizada de terras agrícolas, estufas, poços de irrigação e outras infraestruturas agrícolas – ativos essenciais para a produção de alimentos e meios de subsistência”, assinalou um relatório da organização hoje divulgado, com dados atualizados até ao final de setembro.
As áreas agrícolas atingidas pelo conflito no enclave palestiniano aumentaram em comparação com uma avaliação anterior da FAO, que em maio indicava 80% de terras danificadas.
Segundo a organização, com sede em Roma, os maiores danos foram registados no norte do território e na cidade de Gaza, com 94% e 91%, respetivamente, enquanto a área de Khan Yunis, no sul do enclave, foi a mais afetada em termos absolutos, com mais de 3.500 hectares.
O relatório detalhou que a destruição abrange todas as categorias de culturas: pomares e árvores (89%), cultivos de campo (88%) e hortícolas (80%). Os olivais, símbolo da agricultura local, são os mais atingidos, com 90% da área afetada.
Foram também registados danos severos em estufas, que aumentaram de 71% no relatório anterior para 80% em outubro.
Apesar da escala dos danos, 37% dos terrenos atingidos estão atualmente “fisicamente acessíveis” para reabilitação e cultivo, de acordo com o documento.
Relativamente às infraestruturas agrícolas, as mais afetadas são as explorações avícolas (962), os celeiros domésticos (924) e as explorações de ovinos (689), sendo Khan Yunis novamente a região mais atingida.
Os poços agrícolas também sofreram danos graves, com 87% danificados até ao final de setembro, reduzindo ainda mais a capacidade de produção agrícola e pecuária.
“As imagens de satélite mostram que a escala da destruição de terras agrícolas em Gaza prejudicou gravemente a capacidade da região para produzir alimentos”, afirmou a diretora-geral adjunta da FAO.
Beth Bechdol pediu “apoio urgente” para a recuperação de terras agrícolas e infraestruturas, sublinhando que esta ajuda “é essencial para proteger os meios de subsistência e garantir que as famílias se podem alimentar”.
A FAO considerou ainda que o cessar-fogo no território entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, em vigor desde 10 de outubro, oferece “uma oportunidade estreita e com um prazo determinado” para começar a restaurar a produção de alimentos e os meios de subsistência da população.
Há uma semana, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, lamentou que a ajuda humanitária que entra no território palestiniano continuava insuficiente, descrevendo a situação como catastrófica.
“O nível de fome e desnutrição em Gaza continua imparável, apesar do cessar-fogo em vigor desde 10 de outubro, já que a ajuda alimentar permanece insuficiente”, alertou.
Em agosto, mais de meio milhão de pessoas na Faixa de Gaza enfrentavam uma situação de fome, segundo uma análise da Classificação Integrada de Segurança Alimentar divulgada pelas Nações Unidas.
Foi a primeira vez que se declarou fome no Médio Oriente, num quadro que se foi deteriorando até ao último cessar-fogo no território.
A primeira fase do entendimento, impulsionado pelos Estados Unidos e negociado ao longo de vários dias com a mediação de outros países (Egito, Qatar e Turquia), inclui a troca de reféns em posse do Hamas por prisioneiros palestinianos, a retirada parcial das forças israelitas do enclave e o acesso de ajuda humanitária.
A etapa seguinte, ainda por acordar, prevê a continuação da retirada israelita, o desarmamento do Hamas, bem como a reconstrução e a futura governação do enclave.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que causou mais de 68 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.









































