Moçambique alertou hoje para o “risco alarmante” do desmatamento e degradação acelerada dos solos na África Austral, com pelo menos 800 mil quilómetros quadrados de Miombo perdidos desde 2000, pedindo esforços coletivos para travar o desflorestamento.
“O desmatamento e a degradação dos solos estão a acelerar a um ritmo alarmante. Desde o ano 2000, o ecossistema de Miombo perdeu cerca de 800 mil quilómetros quadrados, uma área superior à superfície total de Moçambique. Esta não é apenas uma estatística ambiental, é sim uma ameaça direta à prosperidade, à saúde e futuras gerações da região”, disse o secretário de Estado da Terra e Ambiente de Moçambique, Gustavo Dgedge.
O governante falava hoje, em Maputo, durante a abertura do workshop regional do Programa de Impacto em Paisagens Sustentáveis de Terras Áridas, um mecanismo de intercâmbio regional da África Austral sobre esta matéria, tendo admitido desafios na preservação dos ecossistemas naquela região do sul do continente.
“Os ecossistemas de Miombo e Mopane representam uma força vital para a África Austral. São uma herança comum que alberga biodiversidade extraordinária, regula o clima e os recursos hídricos, e sustenta a subsistência de mais de 300 milhões de cidadãos. No entanto, esta base vital está sob grande pressão”, disse Gustavo Dgedge.
O responsável acrescentou que a região enfrenta uma crescente desertificação e degradação da terra, enquanto crescem as zonas áridas, com consequências “gravíssimas” que incluem a perda de solos produtivos, com salinização e desestruturação física que os tornam impróprios para agricultura, impactos ambientais severos, incluindo desequilíbrio ecológico e perda de biodiversidade.
Segundo Gustavo Dgedge, estes desafios surgem numa altura em que 75% das terras africanas já são classificadas como áridas ou semiáridas, com previsões de expansão entre 5% a 8% até 2080.
Para o caso específico de Moçambique, o secretário de Estado admitiu “desafios urgentes” na gestão sustentável de terras áridas perante uma realidade que “assume contornos dramáticos”.
“As províncias do sul, como Gaza e Inhambane, registaram reduções de 20% a 30% na precipitação anual nas últimas décadas, acompanhadas pelo aumento de temperaturas e prolongados períodos de seca que afetam cerca de 2,3 milhões de pessoas apenas nesta região”, alertou Gustavo Dgedge.
Moçambique pediu ainda uma aposta na conservação e uso racional dos recursos florestais para manter os benefícios económicos, sociais e ambientais, adaptando técnicas de maneio a ambientes secos que possuem ecossistemas frágeis, incluindo plantio de espécies resistentes à seca, a conservação da água, combate à erosão e envolvimento das comunidades locais.
“Esta crença na ação integrada e transfronteiriça é a razão pela qual defendemos a Declaração de Maputo sobre a Gestão Sustentável das Florestas de Miombo (…). A nossa visão é que o futuro destas paisagens não pode ser assegurado por nenhuma nação isoladamente”, disse, pedindo ações conjuntas para proteger as florestas.
A Floresta de Miombo cobre dois milhões de quilómetros quadrados e garante a subsistência de mais de 300 milhões de habitantes de 11 países da África Austral, incluindo pastagens tropicais e subtropicais, moitas e savanas. Constitui o maior ecossistema de florestas tropicais secas do mundo e enfrenta atualmente, entre outros, problemas de desflorestação, sendo o processo de recuperação liderado por Moçambique.
O Governo moçambicano esperava mobilizar investimentos para proteger a Floresta do Miombo, que cobre ainda parte do território de Angola, estimados no plano de ação em 550 milhões de dólares (495 milhões de euros), dos quais 153 milhões de dólares (138 milhões de euros) foram garantidos desde 2022, tendo somado mais 500 milhões de dólares (450 milhões de euros) no ano passado.