A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) alertou hoje, em Maputo, para a insegurança alimentar face à desflorestação e degradação dos solos devido às secas na região austral de África.
“Mais de 45% das terras na África Austral são as mais afetadas, afetando a produtividade agrícola e pecuária e minando os meios de subsistência, como a agricultura que gera empregos para mais de 60% da população. Nesta sub-região, a degradação do solo não é apenas uma questão ambiental. É uma crise de segurança alimentar e um fator que constitui barreira de desenvolvimento”, disse Patrice Talla, coordenador sub-regional da FAO para a África Austral.
O responsável falava em Maputo durante a abertura do workshop regional do Programa de Impacto em Paisagens Sustentáveis de Terras Áridas, um mecanismo de intercâmbio regional da África Austral, em que reconheceu que as florestas africanas são responsáveis por sustentar milhares de pessoas e de absorver o carbono, sendo vitais para a sustentabilidade ambiental global.
“No entanto, apesar dessa riqueza ecológica e socioeconómica, as terras da África Austral enfrentam pressões sem precedentes. A variabilidade climática, as secas recorrentes e a degradação generalizada da terra ameaçam esse imenso capital natural”, disse Patrice Talla.
O responsável da FAO pediu esforços coletivos na sua preservação, incluindo apoios a programas já em curso que visam a restauração de florestas, promoção de pesca e agricultura sustentáveis e gestão hídrica.
“Isso garante que as intervenções sejam ambientalmente corretas e proporcionem benefícios tangíveis às comunidades locais, melhorando os meios de subsistência e a resiliência (…). Estamos a investir em ferramentas especiais de avaliação, promovendo práticas sustentáveis de maneio florestal e territorial e no fortalecimento de cadeias de valor de terras secas para garantir que os esforços de restauração se traduzam em benefícios para as comunidades”, disse Patrice Talla.
Moçambique alertou hoje para o “risco alarmante” do desmatamento e degradação acelerada dos solos na África Austral, com pelo menos 800 mil quilómetros quadrados de Miombo perdidos desde 2000, pedindo esforços coletivos para travar o desflorestamento.
“O desmatamento e a degradação dos solos estão a acelerar a um ritmo alarmante. Desde o ano 2000, o ecossistema de Miombo perdeu cerca de 800 mil quilómetros quadrados, uma área superior à superfície total de Moçambique. Esta não é apenas uma estatística ambiental, é sim uma ameaça direta à prosperidade, à saúde e futuras gerações da região”, disse o secretário de Estado da Terra e Ambiente de Moçambique, Gustavo Dgedge.
A Floresta de Miombo cobre dois milhões de quilómetros quadrados e garante a subsistência de mais de 300 milhões de habitantes de 11 países da África Austral, nomeadamente Moçambique e Angola, incluindo pastagens tropicais e subtropicais, moitas e savanas. Constitui o maior ecossistema de florestas tropicais secas do mundo e enfrenta atualmente, entre outros, problemas de desflorestação, sendo o processo de recuperação liderado por Moçambique.
O Governo moçambicano esperava mobilizar investimentos para proteger a Floresta do Miombo, estimados no plano de ação em 550 milhões de dólares (495 milhões de euros), dos quais 153 milhões de dólares (138 milhões de euros) foram garantidos desde 2022, tendo somado mais 500 milhões de dólares (450 milhões de euros) no ano passado.