No início de Junho publiquei um artigo, apesar de bem-intencionado, polémico.
Neste, pedia à EDIA como concessionária – “dona” – da Água no Alentejo e, portanto, do fator de produção isolado com mais impacto na produtividade de um Agricultor – “disto tudo” – que assumisse uma postura mais firme, sem rodeios, para proteger e honrar os compromissos que vem assumindo ao longo das últimas décadas da forma que me parece mais simples, bem como justa e sustentável, o aumento do volume de água concessionado.
O artigo tem o seu próprio enredo argumentativo, que talvez tenha saltado passos visto que propôs e fundamentou a solução, tendo omitido a exposição do problema. Destarte, será aí que hoje me focarei. Concisamente, o problema reduz-se ao facto de Alqueva estar em seca – uma seca criada pelo Homem.
Explico-me – a concessão de 590hm3 para rega cria uma situação de escassez artificial de água que passarei a demonstrar.
Atentando nos dados do Anuário Agrícola de Alqueva 2024 extraí e tabelei os valores referentes às culturas instaladas no perímetro e às dotações autorizadas pela própria EDIA.
Apesar do desprestígio a que a profissão tem sido relegada, o Engenheiro Agrónomo ainda consegue realizar o simples exercício de, com estes dados, obter o que seria o volume hídrico utilizado, caso os Agricultores se limitassem a usufruir daquilo a que têm direito.
Ou seja, caso as culturas anuais regassem aquilo a que têm direito e as culturas permanentes estivessem em ano cruzeiro – a que almejamos, como setor, que cheguem! – Alqueva não teria concessão suficiente para suprir os seus compromissos – isto porque Alqueva assumiu compromissos com: i) perímetros confinantes; ii) precários autorizados; iii) segunda fase de expansão.
Na verdade, o quadro é “mais negro” do que o que aqui se pinta. Se formos a considerar as Tabelas de Uso Eficiente da Água da DGADR, isto é, as dotações para as quais a Autoridade Nacional para o Regadio considera como sendo de um “Uso Eficiente” por parte do Agricultor, o compromisso nem é assumido para a área atual.
A discussão para esta discrepância, entre o que a EDIA diz que é o Uso Eficiente e o que a DGADR diz que é o Uso Eficiente, ficará para outras instâncias (quiçá dirimido diretamente entre as próprias entidades?), mas é, ainda assim, de notar que estes dados consideram dotações autorizadas para um ano médio sendo que o tema se agravaria, substancialmente, se se considerassem as dotações para um ano seco, lembremo-nos, cada vez mais comuns.
Os Agricultores pensam a prazo – os das culturas anuais, com investimentos como pivots a 20 anos, como os das culturas permanentes, em que o próprio ativo biológico está previsto até 30 anos.
Assim, como agricultor, identifico um problema que tem de ser exposto, urgentemente, à tutela, com todos os meios disponíveis e numa defesa assertiva e pragmática – para isso, uma defesa convicta, resoluta, determinada, veemente e pública dos agricultores – dos seus regantes! – conto com o apoio da EDIA.
Porque os atos consequentes não derivam apenas da exposição do problema, fiz eco de uma solução que tem sido proposta por várias partes interessadas – o aumento da concessão para os usos atuais e previstos. Este é possível, desejável e sustentável sem qualquer outra origem de água.
Para outros usos incrementais aos referidos, teremos, naturalmente, outras conversas…
Agricultor