O Mercado de Trabalho é, na maioria das vezes, uma perspetiva algo assustadora para qualquer jovem que nele pretenda ingressar. Acabamos por ser protagonistas, forçados pelas condicionantes sociais, de um “salto para o desconhecido”.
Tal não é desejável.
No sector agrícola em particular, é de notar o percurso mais difícil dos chamados “urbanos” – aqueles que não têm família no meio rural ou terras para gerir. Quando a Agronomia se começa, finalmente, a imiscuir no mundo da Agricultura Profissional em Portugal, será de esperar a cada vez maior entrada no Mercado de Trabalho do sector agrícola deste tipo de Estudantes.
Estes “urbanos” devem ser protegidos e acarinhados, pois conservando-se o que se deve, também devemos incluir e abraçar novas perspetivas, aquelas que melhorarão o nosso sector, livrando-nos dos preconceitos indevidamente instalados.
Para colmatar a dúvida nesta transição e, de certa forma, desta falha no sector, como em tudo, há vários atores que podem agir. No sentido de assegurar que a transição para um emprego não é um percurso polvilhado de dúvidas e incertezas que nos deixam mais susceptíveis a situações que, infelizmente, ainda existem de tentativa de aproveitamento (em alguns casos, exploração) desta “geração mais qualificada de sempre”, este Estudante pedia aos diversos intervenientes algumas medidas, ações ou mudanças de mentalidade que, pensa, possam melhorar esta transição.
Partindo de onde estou mais próximo, os jovens têm de mudar, definitivamente, a sua perspetiva. Numa crítica um pouco transversal a todos os ramos, aqueles que entram no mercado de trabalho têm de procurar isso mesmo – um trabalho. Não um emprego. Têm de abraçar ideias, ideais e projetos e não cargos ou postos. Independentemente do diploma com que, desejavelmente, o jovem agricultor sai da Universidade, não pode ter a sobranceria de se achar o “Senhor Engenheiro” e de pensar que sabe mais do que o caseiro ou o técnico que lá anda montado no trator há 37 anos… “Arrogância é ignorância” e a única postura eficiente para a aprendizagem é uma de humildade que nos permita absorver tudo e depois, com as capacidades próprias e desenvolvidas pela formação mais atual, filtrar e adequar da maneira que acharmos necessário.
Sem esta atitude, a integração de um jovem numa empresa será difícil, a relação com os colegas de trabalho será pior e, derivado de se julgar sempre acima do que lhe atribuem ou ensinam, não se sentirá satisfeito com o seu percurso entrando num ciclo vicioso de frustração e desalento.
Não sou psicólogo, mas isto é o que observo.
Passando para um outro ator importante nesta transição, as Universidades de Ciências Agrárias em Portugal podem melhorar, em muito, a sua prestação.
Iniciativas como a criação de um Gabinete de Relações Externas facilitaria o contacto que as empresas desejam ter diretamente com as Universidades. Estas saberiam para onde dirigir as suas questões relativamente ao que procuram (não é tão óbvio assim quando não se conhece o plano curricular de um Curso, os professores, os alunos, a estrutura orgânica da Universidade, etc…) e o primeiro contacto seria realizado com funcionários, conhecedores do mercado de trabalho, e, principalmente, que teriam em mente os interesses dos seus estudantes.
Outros comportamentos como, aquando do estabelecimento de protocolos com empresas, de diferentes âmbitos, se incluísse, obrigatoriamente, a participação de alunos, têm também um elevado valor acrescentado. Numa ótica de “cada caso é um caso”, definir a participação de 2/3/4 (mediante a escala) estudantes em cada acordo traria para os próprios desenvolvimentos muito importantes das suas capacidades e um networking real já começando a inserção no mercado de trabalho, enquanto para as empresas, além do objetivo do protocolo, tinham já também um contacto efetivo com representantes da sua próxima geração de trabalhadores. Assim se promovem sinergias e contactos!
Se tudo isto culminasse em Feiras de Emprego e sessões constantes com os alumni de cada Escola, esta interligação entre dois atores – Universidades e Empresas – por vezes, tão afastados, seria exponencialmente reforçada.
Abordando, por fim, o papel das empresas arriscaria dizer que há pequenas mudanças que poderiam trazer grandes impactos.
Num exemplo prático, é comum um Jovem querer planear, antecipadamente, um estágio de Verão. Ainda mais frequente é a empresa demorar meses a responder ao pedido ou, até, a não responder de todo. Tal tipo de atuação atrasa a procura por outros desafios, limita o contacto com outras empresas (que, por vezes, podem mesmo ser uma segunda escolha), basicamente, afeta a busca por experiência prática de um jovem ávido para crescer profissionalmente e, se bem que já não muito valorizada hoje em dia, rasa também a simples má educação fazendo lembrar os “abusos de poder” de empresas que tantas vezes se queixam, e bem, de estarem no lado errado da balança de forças noutro tipo de negociações… Os mais “fracos” devem ser tratados com justiça, desde o jovem aspirante a agricultor, ao agricultor, à empresa agrícola e ao retalho.
Olho com a esperança característica dos jovens para o sector que me apaixona, sabendo que é composto por pessoas que, além das agruras da própria escolha que fizeram – nada fácil por si só – vêm-se, cada vez mais, forçados a combater segmentos populacionais e as suas incoerências para alimentar essas e todas as outras pessoas. A união tornar-nos-á mais fortes e capazes de enfrentar esses e todos os desafios que surgirem.
A ligação e procura de sinergias entre estes atores, resumidamente, o que proponho neste artigo, alcançará isso mesmo.
Saudações Agronómicas,
Filipe Corrêa Figueira
Estudante do Instituto Superior de Agronomia