Investigadores da Universidade de Évora (UÉ) desenvolveram um processo tecnológico que abre caminho à produção em massa de túberas, ao permitir ligar os fungos que as originam a plantas com mais tempo de vida.
“Este fungo só se ligava com plantas com um ciclo anual, mas conseguimos ligar o fungo a plantas que vivem vários anos (plantas perenes) e fazer plantações”, disse hoje à agência Lusa a investigadora da UÉ Celeste Santos e Silva.
A docente do Departamento de Biologia e investigadora do MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento explicou que as túberas são a “frutificação” de um tipo de fungo que “vive em associação simbiótica com plantas”.
As túberas (ou criadilhas), comestíveis e consideradas uma iguaria, caracterizam-se por permanecer debaixo da terra até à maturação dos esporos, possuírem uma forma arredondada e medirem, em média, quatro a oito centímetros de diâmetro, podendo até atingir os 10 centímetros.
Estes “cogumelos subterrâneos” surgem apenas na primavera e com mais frequência no sul do país, sobretudo no Alentejo, em solos arenosos e ácidos, ocorrendo também, com menos expressão, na Beira Litoral e na Beira Baixa.
Segundo a UÉ, os investigadores da academia alentejana conseguiram fazer “a associação micorrízica deste fungo com plantas perenes”, como o sargaço (Cistus salviifolius) e a esteva (Cistus ladanifer).
Uma das etapas do processo tecnológico, que aguarda atribuição de patente europeia, “foi o isolamento do micélio (parte vegetativa) de terfezia (género do fungo que quando frutifica dá a túbera) em cultura pura”, adiantou a Universidade de Évora.
Foi possível “fazer crescer este fungo numa caixa de Petri com ágar-ágar (um espessante extraído de algas marinhas), que dá ao meio uma consistência gelatinosa, e com uma determinada composição de nutrientes e minerais”, referiu a investigadora.
Citada pela UÉ, Celeste Santos e Silva salientou que “muitas cepas não podem ser subcultivadas” e, até agora, “as poucas tentativas bem sucedidas, principalmente com terfezia, apresentavam um crescimento muito lento e deficitário para que fosse possível produzir micélio nas quantidades adequadas”.
Esta descoberta, sublinhou a academia alentejana, permite “melhorar o isolamento e a manutenção da cultura de micélio de espécies do género terfezia”, considerado “o mais diverso, rico em número de espécies, do grupo das ‘trufas-do-deserto’”.
Celeste Santos e Silva considerou que esta investigação lançou ainda “as bases para uma nova forma de produção de alimentos com propriedades nutracêuticas”, referindo-se à combinação dos termos “nutrição” e “farmacêutica”.
A descoberta tem “utilidade, entre outros, para o setor agroflorestal” e “permitirá a exploração deste recurso micológico de uma forma sustentável, resiliente e economicamente rentável”, frisou.
Por outro lado, acrescentou, a disseminação de plantas inoculadas com este processo “previne a desertificação e erosão do solo, reforça a integridade e a multifuncionalidade da paisagem e permite a recuperação de áreas ardidas e com solos degradados”.
Durante o projeto, o grupo de investigadores realizou uma prospeção de túberas e descreveu duas novas espécies para a ciência, nomeadamente a terfezia lusitanica e terfezia solaris-libera.
As túberas têm utilização em diversos setores, como farmacêutico, cosmético, alimentação e agricultura.
UÉvora desenvolveu processo tecnológico para a produção em massa de túberas