A Universidade de Coimbra (UC) está a coordenar um projeto internacional que aposta na gestão agroecológica de infestantes e pragas, e que foi contemplado com um financiamento de cinco milhões de euros para os próximos quatro anos.
O projeto internacional GOOD – coordenado pela professora catedrática do Departamento de Ciências da Vida (DCV) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) Helena Freitas – envolve mais de uma dezena de países europeus, tendo como principal ambição promover a transição agroecológica para a gestão de infestantes e pragas em toda a Europa.
“Ao implementar uma abordagem multidisciplinar, o ‘Agroecology for Weeds – GOOD’ pretende criar, implementar e avaliar práticas, sistemas e protocolos de Gestão Agroecológica de infestantes e demonstrar, em condições reais, como a adoção desta gestão pode reduzir fortemente o uso de herbicidas sintéticos, aumentar a sustentabilidade, produtividade e resiliência dos sistemas agrícolas, explicou a coordenadora do projeto.
Numa nota enviada hoje à agência Lusa, a UC vincou que os sistemas agrícolas da União Europeia (UE) enfrentam desafios crescentes de sustentabilidade e produtividade, devido ao impacto das alterações climáticas em toda a cadeia de valor agroalimentar, agravado pelos efeitos negativos da pandemia causada pela covid-19 e, mais recentemente, pelas instabilidades geopolíticas.
“Estes são dois fatores que ameaçam a estabilidade do setor agrícola e enfatizam a necessidade de mudança na perspetiva/agenda agrícola europeia”, apontou Helena Freitas.
Segundo a UC, as infestantes são um dos fatores mais importantes para determinar a produtividade, rendimento e sustentabilidade da produção agrícolas, o que faz com que “os agricultores dependam fortemente de herbicidas devido à sua alta eficácia contra estas ervas nocivas, e constituem a segunda categoria de pesticidas mais vendida na UE-27, representando, de acordo com o EUROSTAT, 35% de todas as vendas de pesticidas em 2020”.
Perante esta realidade e reconhecendo a necessidade de acelerar a transição para sistemas alimentares sustentáveis, seguros e saudáveis, bem como para enfrentar a ameaça da crise da biodiversidade, várias iniciativas políticas da UE, incluindo o EU Green Deal e sua Farm to Fork (F2F) e Estratégias de Biodiversidade, definiram como meta reduzir em 50% o uso de pesticidas sintéticos até 2030.
Estas iniciativas serão transpostas para os Planos Estratégicos dos Estados-Membros da Política Agrícola Comum (PAC) através dos eco-esquemas.
De acordo com a coordenadora do projeto, a nova proposta sobre o uso sustentável de pesticidas pretende que o foco seja direcionado “para a promoção de adoção de métodos alternativos de controle de infestantes”.
“Ao fazê-lo, está a estabelecer-se, pela primeira vez, uma forte iniciativa para atingir os ambiciosos objetivos da Comissão Europeia com metas juridicamente vinculativas para a redução de pesticidas na EU”, acrescentou.
Helena Freitas defendeu ainda que os aspetos socioeconómicos que envolvem a gestão de ervas daninhas – simultaneamente com o papel dos agricultores na tomada de decisão, a preocupação pública com o uso e a resistência a pesticidas, a segurança alimentar, as questões gerais de saúde humana e as regulamentações governamentais resultantes – “exigem a redução da dependência excessiva de herbicidas”.
Para tal, é necessário o desenvolvimento de “abordagens de sistemas alternativos usando estratégias preventivas, mecânicas, culturais e biológicas, combinadas com ferramentas de agricultura de precisão num contexto de gestão agroecológica de infestantes”.
O projeto internacional GOOD vai desenvolver uma Rede Agroecológica, que engloba um ecossistema de 16 Living Labs (LLs), com a intenção de melhorar a cocriação de conhecimento, a decisão dos agricultores – criação e aceitação do utilizador final de abordagens.
“Esta rede de gestão será tanto uma rede física de LLs, permitindo aos utilizadores e parceiros a partilha de conhecimentos e experiências, como uma rede digital de todos os atores relevantes em toda a cadeia de valor agroalimentar, criando ligações com outros projetos e redes que operam no campo da agroecologia e gestão de pragas”, informou.
Para a concretização deste objetivo final, o projeto propõe diversas soluções focadas no “uso de plantas de cobertura em todos os laboratórios e o aumento de sua capacidade competitiva contra infestantes por meio de inoculação com microrganismos benéficos, a combinação de plantas de cobertura com outros métodos de Gestão agroecológica e soluções digitais num esquema integrado para a redução da pressão de pragas e uso de herbicidas nos 16 LLs”.
Coordenado pelo Centro de Ecologia Funcional da FCTUC, o GOOD é um projeto Horizonte Europa e envolve, além de Portugal, países como França, Espanha, Itália, Grécia, Irlanda, Bélgica, Letónia, Países Baixos, Sérvia e Chipre.