A ganadaria brava não pode acabar num túnel escuro de um matadouro. O sentido da sua vida é a lide. O toiro bravo é arte, é cultura e é liberdade. A sua destruição é um massacre cultural e ecológico.
Esta reflexão que aqui vos deixo, não é mais do que um grito de alerta em defesa de um animal, o toiro bravo, que amo com todas as minhas forças e energia intelectual e, tristemente, vejo esquecido e atacado, resultado de uma ignorância que apedreja a história e a cultura portuguesa. Mas como incorrigível optimista que sou, sempre com a esperança que, aqueles que governam este país, o entendam, o percebam como um verdadeiro guardião da biodiversidade.
O momento que a tauromaquia vive é a todos os títulos dramático e para muitos profissionais insustentável. Devemos compreender de forma clara o que enfrentamos, que tempos vivemos e o que está em jogo.
A globalização, que na essência me parece ter muitos aspectos positivos, matou ou feriu gravemente a cultura de identidade de cada país ou cada região. É doentio, do ponto de vista do humanismo, impor como progresso uma proibição ao outro, um repúdio aos toiros, à caça, à pesca, à relação homem/animal. A globalização na cultura, é uma realização plena e completa de uma tendência que pretende uma única forma de sentir e perceber a vida. Planificar uma sociedade de religião ou não religião única, ou de moral única, ideologicamente homogénea é uma atrocidade para a própria Cultura. Porque as culturas de cada lugar dão sentido às gentes, à história, à sociedade, às formas de relações humanas de cada lugar.
Mas, reconhecida que está a sensibilidade actual da sociedade para com os animais, há que compatibilizar e harmonizar o modo de pensar contemporâneo com a Tauromaquia. E aqui temos um argumento de peso, uma razão vital. Não me canso de dizer que o futuro do toureio estará a salvo quando a nossa realidade ecológica imprescindível seja conhecida, compreendida, aceitada e positivada pela sociedade portuguesa. As novas gerações internacionais sensibilizaram-se com um trabalho de sustentabilidade do planeta que a tauromaquia encerra e transporta dentro de si. Mas que se desconhece. Esta é a nossa arma secreta e por muito que nos surpreenda, ninguém a conhece. Hoje não nos reconhecem como ecologistas, mas sim como mal tratadores de animais. No caso do toiro bravo a aspiração ecologista de que todo o animal habite o espaço próprio que exige a sua natureza, cumpre-se sobradamente e podemos afirmar que o seu é único no mundo, muito superior ao das reservas africanas de animais selvagens, uma vez que o ganadero de bravo complementa a sua alimentação em épocas de seca extrema e controla regularmente o seu estado sanitário em cumprimento das escrupulosas disposições europeias. A sua perigosidade converte-o em guardião dos bosques, neutralizando a incursão de caçadores e recolectores furtivos, pirómanos e turistas urbanos, dando, no entanto, hospitalidade e segurança a bandos de aves migratórias e outras espécies silvestres, muitas delas em perigo de extinção. Portanto, temos uma defesa de uma biodiversidade sempre actual e desejada.
As ganadarias de bravo contribuem na luta contra a alteração climática, porque os montados são sequestradores de CO2 e fontes produtoras de oxigénio. A criação do toiro bravo supõe ainda uma barreira contra os incêndios, porque a constante vigilância dos animais e as características de acesso às explorações dificultam a deflagração e expansão dos mesmos. E também evitam o furtivismo e limitam o acesso ao maior predador: o homem.
Como afirma Carlos Ruíz Villasuso, pode acontecer que o toureio não se mantenha pela arte do toureio, mas sim pela arte da ecologia. Que ninguém pense que pela cultura, pelo culto, chegaremos a um futuro melhor. O culto é o oculto. A cultura, hoje, significa tão pouco nesta sociedade que, se Manolete nos parece um personagem mítico saído de um quadro de El Greco, para a maioria social nova e manipulada que não sabe sequer quem foi El Greco, Manolete é só um tipo que matava animais. Ninguém já lê Lorca, seguem os passos de uma tal Greta. Vamos por aí, joguemos esse jogo social, porque aí ganhamos por goleada. A arte de bem tourear, como a cultura, é para paladares sensíveis, mas minoritários, sim, muito sensíveis. É uma arte culta.
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