A fundação Global Rights Compliance (GRC) acusou hoje a Rússia de afetar deliberada e metodicamente a infraestrutura agrícola da Ucrânia para a substituir como grande exportador global de cereais.
Num relatório validado pelas autoridades ucranianas, incluindo o gabinete do Procurador-Geral, a GRC está a analisar ataques russos na província de Odessa, no Mar Negro, entre julho e outubro de 2023, principalmente nos portos de Chornomorsk, Reni e Izmail, que visaram tanto as infraestruturas agrícolas como as colheitas de cereais.
De acordo com um relatório desta fundação jurídica – com sede em Haia e delegação em Kiev – que deverá ser partilhado com o Tribunal Penal Internacional (TPI), as operações militares russas “fazem parte de um esforço sistemático para desmantelar o setor agrícola da Ucrânia através da ocupação, destruição de infraestruturas e extração ilegal”.
“Formam um padrão que se estende além dos portos para os sistemas de energia, água e ambiente, causando consequências humanitárias, ambientais e de segurança alimentar global”, pode ler-se no relatório.
A responsabilidade das mais altas autoridades civis e militares russas é clara, de acordo com os autores do relatório, que argumentam que o nível de coordenação dos ataques exigia a aprovação do Estado-Maior do Exército e, em alguns casos, uma decisão do próprio Presidente russo, Vladimir Putin.
Em julho de 2023, Moscovo fechou a porta à Iniciativa do Mar Negro, sob a égide da ONU e da Turquia, que permitiu à Ucrânia exportar a sua produção agrícola por via marítima.
Nessa altura, a Rússia acusou o Ocidente de não cumprir a sua palavra ao não levantar certas sanções.
A GRC sublinha que, após esta retirada do acordo por parte das autoridades russas, houve um aumento de “ataques contra cereais e infraestruturas relacionadas localizados nos portos do Mar Negro e do Danúbio, anteriormente utilizados para a exportação de cereais”.
A fundação acredita que a Rússia “parece” estar a planear substituir a Ucrânia como “maior exportadora de cereais do mundo”.
A GRC alega que, se o seu principal objetivo fosse militar, “seria de esperar ver mais provas de ataques russos a alvos militares nas proximidades destas instalações, o que, de acordo com uma análise de imagens de satélite, não existiu”.
A organização reporta danos ou destruição em mais de 101 mil metros quadrados de espaço de armazenamento, bem como maquinaria crítica para a produção e exportação, e acredita que isto terá um impacto a longo prazo na reconstrução, recuperação económica da Ucrânia, ambiente e segurança alimentar global.