As Nações Unidas (ONU) indicaram hoje que continuam as negociações em torno dos acordos de exportação de cereais da Ucrânia e Rússia, recordando que as prorrogações previstas são de 120 dias.
O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, sublinhou hoje no seu briefing diário à imprensa que o próprio texto do acordo é claro quando prevê que as prorrogações são por 120 dias, apesar de a Rússia ter concordado em fazê-lo por apenas 60 dias.
“O acordo é público, é um documento aberto”, disse Dujarric, que confirmou que as conversações entre as partes continuam.
A iniciativa dos cereais do Mar Negro – dois acordos originalmente firmados no verão passado pela Ucrânia e pela Rússia, com a mediação da Turquia e das Nações Unidas – foi prorrogada pela última vez em novembro e expiraria no próximo sábado, se não se chegasse a um consenso.
Esta semana, após negociações em Genebra, Moscovo anunciou que o pacto seria estendido por 60 dias, mas tanto a Ucrânia quanto a Turquia disseram que uma extensão de 120 dias ainda está em cima da mesa.
“Iniciamos as negociações com a ideia de estender o corredor de cereais por mais 120 dias, de acordo com a primeira declaração do acordo”, disse o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar, na quarta-feira, confiante de que o assunto “pode ser resolvido positivamente em pouco tempo”.
Tanto a Turquia quanto a ONU insistiram na importância de manter esse acordo para permitir que cereais e outros produtos continuem a sair dos portos ucranianos, evitando uma crise alimentar global.
A Rússia insiste que, embora tenha cumprido todos os compromissos do pacto, o mesmo não aconteceu com as promessas que lhe foram feitas para facilitar as suas exportações de alimentos e fertilizantes.
A ONU admite que, apesar de muitos progressos, as vendas russas continuam a enfrentar dificuldades, sobretudo devido aos efeitos colaterais das sanções ocidentais.
Embora os cereais não sejam alvo de sanções, as Nações Unidas apontaram que existem complicações devido aos sistemas de pagamento e à relutância de empresas privadas em participar nessas operações com Moscovo.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa – justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.173 civis mortos e 13.620 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.