O Algarve está numa situação “muito difícil” devido à seca e no presente só há duas coisas a fazer, “esperar que chova e poupar”, disse hoje o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL).
António Miguel Pina deixou esta reflexão no painel da abertura das Jornadas do Mundo Rural, que se realizam hoje e sexta-feira em Alcoutim, advertindo que estas soluções são as únicas que podem ajudar a preservar as reservas existentes na região, até estarem concluídos os investimentos previstos para combater a seca.
“Quero deixar algumas ideias e preocupações de futuro, porque o presente é mesmo muito difícil e só há duas coisas a fazer: esperar que chova e poupar. No curto prazo só há isso a fazer”, afirmou o também presidente da Câmara de Olhão.
António Miguel Pina recordou que o sistema de abastecimento público existente da região “foi suficiente” nos últimos 20 anos para garantir as necessidades do circuito urbano e os perímetros de rega, mas sublinhou que os períodos de seca tinham quatro a cinco anos e o atual já dura há oito.
Perante este cenário, o presidente da AMAL pediu união à região para avançar com investimentos necessários, nos quais deve estar incluída, defendeu, uma ligação do sistema da barragem de Alqueva ao de Beliche-Odeleite e outra até à barragem de Santa Clara.
Esta solução não é, contudo, a mais indicada para o presidente do conselho de administração da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), José Pedro Salema.
Segundo aquele responsável, que falava durante uma intervenção nas jornadas, este sistema está dimensionado para uma determinada realidade e, “se se começa a esticar a rede para mais longe, vai-se tirar garantias de investimento” ao atual.
“Esta não é a visão da EDIA, a visão da EDIA é garantir a área que está infraestruturada e contribuir com conhecimento e soluções para outras geografias que estão próximas, represando essencialmente linhas de águas nacionais, portanto recursos hídricos que já são propriedade de Portugal e não estão num rio internacional, que levantam questões diplomáticas. E, aí, há muito para fazer”, considerou.
Entre as linhas de água identificadas estão, assinalou, a ribeira de Monchique, no barlavento (oeste) algarvio, as ribeiras de Oeiras e de Peres-Cobres, afluentes do Guadiana, no Alentejo, ou as do Vascão e da Foupana, já no Algarve, que podem aportar “uma centena ou várias dezenas de hectómetros cúbicos”.
Igualmente presente no painel sobre água das Jornadad do Mundo Rural esteve Macário Correia, presidente da associação de regantes do sotavento (leste) algarvio, que também defendeu a necessidade de aproveitar as ribeiras que nascem na serra do Caldeirão para criar novas zonas de retenção de água, como as ribeiras de Almargem ou da Foupana, na qual a associação lidera um projeto para construção de uma barragem.
O antigo governante considerou que estes projetos já são falados há décadas e permitiriam à agricultura crescer e aumentar o seu contributo para a alimentação, a economia regional, as exportações ou o emprego.
Macário Correia aproveitou ainda para insistir na crítica à falta de trabalho realizado para combater as perdas de 30% nas redes de abastecimento, quando a agricultura está sujeita a cortes que podem chegar aos 70% no sotavento.
Promovidas pelas Câmaras de Alcoutim (Faro) e Mértola (Beja) e pela Associação Cumeadas, as jornadas, que se debruçam sobre temas como a água, os ecossistemas, a paisagem, a agrofloresta, o clima ou a cinegética, terminam na sexta-feira em Alcoutim.
O Algarve está atualmente em situação de alerta devido à seca, o que levou o Governo a adotar medidas de restrição ao consumo, como reduções de 15% no ciclo urbano, incluindo o turismo, ou de 25% na agricultura.
Em vista estão vários projetos para aumentar as disponibilidades de água na região, entre os quais a construção de uma dessalinizadora, a captação de água no rio Guadiana a partir do Pomarão ou a construção de uma barragem na ribeira da Foupana.