Os leilões de gado bovino que decorrem semanalmente em Portalegre estão “completamente preenchidos” até finais de julho, uma situação provocada pela escassez de comida devido à seca, alertaram hoje um agrupamento de produtores.
Em declarações à agência Lusa, a coordenadora do Agrupamento de Produtores Pecuários do Norte Alentejano – Natur-al-Carnes, Maria Vacas de Carvalho, alertou que os produtores “estão a desfazer-se das vacadas” devido aos impactos da seca.
“Nós temos os leilões cheios, há pessoas a querer inscrever, mas já no próximo mês está completamente cheio. […] Mais do que bezerros [para venda], aparecem vacas”, lamentou.
Maria Vacas de Carvalho, que coordena este agrupamento com cerca de 400 acionistas, relatou que ainda hoje teve conhecimento de um produtor pecuário que “se desfez de mais de 50% do seu efetivo” bovino.
“Não há comida para os animais e, para não se desfazerem do património todo, desfazem-se de 50% das vacadas. Nós estamos a falar de bovinos novos, não de bovinos já com idade”, acrescentou.
Na quarta-feira, no mais recente leilão que o Agrupamento de Produtores Pecuários do Norte Alentejano – Natur-al-Carnes realizou, foram vendidos “mais de 230 animais”.
Para dar resposta aos produtores, este agrupamento está a equacionar efetuar leilões além dos que decorrem semanalmente, às quartas-feiras.
“A situação é caótica. Se 30% do efetivo das vacas forem vendidas, vamos ter uma redução de bezerros para o ano. Se isto continuar, talvez daqui a quatro ou cinco anos nem leilão temos, porque não temos gado”, afirmou.
Esta semana, também a Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre se mostrou preocupada com o abate ou venda de animais por causa dos efeitos da seca e com a “escassez brutal” de alimentos nas explorações pecuárias da região.
“Já temos uma série de leilões cheios e isso não acontecia – pessoas à espera para vender os animais. Cada um está a tentar vender por onde pode, uns em leilões, outros a negociantes, outros ainda diretamente para os matadouros. Estão a sair animais de todas as formas das explorações”, referiu a presidente da associação, Fermelinda Carvalho, contactada pela Lusa.
A comissão nacional de acompanhamento dos efeitos da seca reúne-se hoje, pela segunda vez este ano, quando os mais recentes dados indicam que o sul do país está em seca severa e extrema.
Os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) de abril mostram um aumento significativo da área de seca meteorológica, que já abrangia quase todo o continente. Os dados de maio ainda não foram revelados.