A Associação da Hotelaria de Portugal quer trabalhar com os parceiros no Algarve para encontrarem respostas para a escassez de água que não sejam soluções tipo ‘pensos rápidos’ que, em última instância, possam afastar turistas da região.
“Temos o compromisso político que manifestámos, de trabalhar com a entidade regional de turismo [do Algarve] no quadro da sua representação para trabalhar com outros setores e encontrarmos respostas face a este tema, que é absolutamente real”, começou por reafirmar o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Bernardo Trindade, à Lusa à margem do 34.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que decorre no Funchal (Madeira).
Questionado pela Lusa se já estão a ser envolvidos nos trabalhos, confirmou estarem a ser ouvidos. “Vamos participar neste debate. Estamos completamente disponíveis”, frisou.
Bernardo Trindade explicou que já há associados da AHP “a fazer medidas de mitigação”, como a colocação de redutores nas torneiras ou a gestão mais disciplinada da rega dos jardins dos hotéis.
“São bons exemplos de como estamos a atuar. Entendemos que ainda não é suficiente. Vamos trabalhar conjuntamente para identificar medidas que possam, de alguma maneira, ser respostas. Como é evidente, temos outros parceiros no Algarve. Temos desde logo as pessoas que lá vivem. Temos a agricultura, temos os ‘golfs’. Todos nós temos que estar disponíveis para este desafio, que é um desafio global”, sublinhou.
O responsável abordou o tema na quarta-feira na abertura do congresso anual que a AHP promove para afirmar a disponibilidade de trabalharem com as diversas entidades, chamando a atenção de que “decisões unilaterais quer de aumentos de preço, ou de forte racionamento”, podem ser “apenas pensos rápidos num tema de vital importância para toda a população qu vive e visita o Algarve”.
Questionado hoje pela Lusa se o setor teme que medidas como o “forte racionamento” possa afetar a imagem do destino e em última instância afastar turistas, respondeu: “Como é evidente. Se à partida uma pessoa que está na sua terra, que reservou e tem enormes expetativas em relação ao Algarve, se se confronta com um ambiente de quase ‘apartheid’ de consumo de água pensa em recuar. Portanto, as coisas têm que ser feitas com graduação e equilíbrio. Estamos disponíveis para assumir o nosso papel, vamos com certeza ter essa função”, concluiu.
Uma resolução publicada em 20 de fevereiro em Diário da República dá conta que o Governo admite “medidas adicionais mais gravosas” para garantir as reservas mínimas que permitam o abastecimento de água para usos prioritários no Algarve.
De acordo com a mesma resolução, as possíveis medidas adicionais, que preveem um “grau mais elevado de contingência” podem ser implementadas após a reavaliação da situação de seca em junho.
O Algarve encontra-se atualmente em situação de alerta devido à seca e, caso haja uma declaração de calamidade, será possível estabelecer limites e condicionamentos à utilização de água em usos não essenciais, assim como medidas de racionalização nos serviços públicos de abastecimento de água, refere.
Ao mesmo tempo, adianta, “será prevista a possibilidade de acesso a outras fontes de abastecimento, estritamente necessárias para a realização das ações destinadas a restabelecer a normalidade nas condições de vida das populações”.
No mesmo sentido, o Governo poderá ainda determinar a utilização de captações de água, superficiais ou subterrâneas, pertencentes a entidades públicas ou privadas, pela concessionária do sistema multimunicipal de abastecimento de água e saneamento do Algarve, quando necessário, nos termos da Lei de Bases da Proteção Civil em vigor.
Em alternativa, pode ser considerada a declaração do estado de emergência ambiental conforme previsto na Lei da Água.
Entre as medidas previstas pelo Governo para preservar as reservas de água na região, está a suspensão do abastecimento de água da rede pública para rega de campos de golfe.
Segundo o Governo, a situação atual no Algarve “afigura-se particularmente crítica”, podendo haver uma eventual “rutura efetiva nos sistemas de abastecimento público” para consumo humano, caso se mantenha o uso de água nos níveis atuais.
A situação de alerta devido à seca no Algarve foi declarada pela Agência Portuguesa do ambiente (APA) em dezembro de 2023 e reafirmada em 25 de janeiro.